Guerra no Médio Oriente

“Cortaram a eletricidade dos ventiladores”: Israel acusado de matar doentes em hospital de Gaza no 167.º dia de guerra

Criança palestiniana ferida recebe tratamento no Hospital Nasser em Khan Yunis, a sul da Faixa de Gaza, após ataques aéreos israelitas
Criança palestiniana ferida recebe tratamento no Hospital Nasser em Khan Yunis, a sul da Faixa de Gaza, após ataques aéreos israelitas
HAITHAM IMAD

Ao mesmo tempo que os chefes dos espiões de Israel e Estados Unidos (Mossad e CIA) voltam ao Cairo para negociar um acordo com o Hamas, Blinken tenta convencer Netanyahu em Israel. Forças de Telavive acusadas de matar 14 pessoas “deliberadamente” em “operação de precisão”

As forças de Israel são acusadas de matar “deliberadamente” 13 pacientes do Hospital Al Shifa, em Gaza, por terem negado apoio e sabotado material médico após um ataque às instalações de saúde, esta quinta-feira.

Segundo a Al Jazeera, pelo menos quatro pessoas foram mortas após o exército de Telavive ter "cortado a eletricidade dos ventiladores" a que estavam ligados. Israel foi ainda acusado de ter detido médicos e enfermeiros e de impedir o acesso dos doentes a farmácias e drogarias, numa "clara violação do direito internacional".

"Consideramos a administração norte-americana, a comunidade internacional e a ocupação israelita totalmente responsáveis por estes crimes em curso contra os doentes, os feridos, as equipas médicas e o nosso povo palestiniano pelo sexto mês consecutivo", enfatizou o mesmo gabinete.

O porta-voz do exército israelita, Daniel Hagari, anunciou na passada segunda-feira o lançamento de uma "operação de precisão" no hospital, alegando que as autoridades dispõem de informações dos serviços secretos que indicam a "utilização" do edifício por "terroristas" proeminentes do Hamas.

As autoridades de Gaza denunciam que o exército israelita está a cometer "crimes de guerra flagrantes" na sua incursão, enquanto o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, manifestou-se "terrivelmente preocupado" com a situação e lembrou que "os hospitais nunca devem ser campos de batalha".

Serviços secretos sentam-se à mesa para alcançar acordo

Os Estados Unidos apresentam esta sexta-feira no Conselho de Segurança da ONU uma proposta para um cessar-fogo em Gaza. Será “uma oportunidade para o Conselho falar a uma só voz para apoiar a diplomacia no terreno e pressionar o Hamas a aceitar o acordo que está sobre a mesa", garante a Casa Branca.

A resolução norte-americana para um cessar-fogo implica a libertação dos reféns raptados durante o ataque do Hamas a Israel – mas não tem o apoio de todos os membros do Conselho de Segurança, entre os quais a Rússia, que preferem uma linguagem mais crua contra a agressão israelita.

"Cada vez que há uma crise no mundo, a primeira coisa que o Conselho de Segurança pede é um cessar-fogo. (...) Não deveria haver uma exceção. Conseguimos um cessar-fogo para o Ramadão no Sudão, por isso precisamos de um cessar-fogo para o fim do Ramadão também em Gaza", argumenta o embaixador da França na ONU, François Delattre.

Ao mesmo tempo, o secretário de Estado dos Estados Unidos chega a Israel para discutir o conflito com Benjamin Netanyahu. Vindo do Cairo, onde continuou a pressionar por um cessar-fogo, Antony Blinken vai tentar convencer o primeiro-ministro de Israel a aumentar a ajuda humanitária no enclave – além de tentar limitar o ataque contra a cidade de Rafah, que Telavive diz ser necessário para destruir o Hamas.

Benjamin Netanyahu deu ordem ao chefe da Mossad para regressar ao Cairo. O líder dos serviços de informações de Israel já tinha ido ao Egito na semana passada, mas não chegou a acordo com as autoridades de Gaza.

Outras notícias

> As autoridades de saúde do Hamas garantem que Israel já matou 32 mil palestinianos desde o início da invasão. Mulheres e crianças representam dois terços dos mortos, mas os números do Hamas não fazem distinção entre civis e combatentes. Esta sexta-feira, pelo menos dez pessoas morreram no norte de Gaza, após um ataque a um prédio residencial.

> O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, assegurou que Portugal "não aceitará a indiferença face à terrível situação humanitária vivida pela população palestiniana" em Gaza e reiterou o apoio à agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA). O membro do Governo pediu ainda a Israel para fazer mais pela entrada de apoio humanitário. A UNRWA agradeceu o apoio português.

> O Governo israelita reivindicou hoje 800 hectares de terras palestinianas no Vale do Jordão, Cisjordânia. O anúncio foi feito pelo ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, uma figura da extrema-direita que dirige o departamento do Ministério da Defesa que autoriza os colonatos. É a maior área de terra ocupada por Israel desde os Acordos de Oslo, segundo a organização não-governamental (ONG) israelita Peace Now.

> O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel convocou o embaixador turco no país para pedir explicações pelos comentários recentes de Erdogan sobre Netanyahu. Durante um comício, o presidente da Turquia afirmou que “Alá” iria “amaldiçoar” o primeiro-ministro de Israel, “tornando-o miserável”-

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