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Guerra no Médio Oriente

Há uma coisa em Gaza que ainda não foi destruída: a fortuna do Hamas. De que é feito o seu (robusto) portefólio de investimentos?

Militantes do Hamas em Bani Suheila, Gaza, numa parada militar
Militantes do Hamas em Bani Suheila, Gaza, numa parada militar
Chris McGrath

Em 2018, revela agora o “New York Times”, uma divisão especial dos serviços secretos israelitas descobriu um portefólio de investimentos ligados ao Hamas que se estende por vários países do Médio Oriente. Avisaram Washington, avisaram Telavive, mas nada foi feito. Parte desse dinheiro, sabe-se agora, serviu para financiar o 7 de Outubro. É possível controlar melhor o dinheiro que entra em Gaza? Sim. Mas estrangular todas as associações locais seria o equivalente a “castigo coletivo”, avisam os especialistas

Há uma coisa em Gaza que ainda não foi destruída: a fortuna do Hamas. De que é feito o seu (robusto) portefólio de investimentos?

Ana França

Jornalista da secção Internacional

Três meses depois de uma guerra intensa e sangrenta com o objetivo de destruir o Hamas, há uma coisa em que se mantém de pé e quase sem amolgadelas: o amplo e, na sua maioria, legítimo, portfólio de investimentos do grupo extremista, cujos dividendos ajudaram a montar o ataque de 7 de outubro. Apesar dos avisos dos serviços secretos israelitas, o Governo em Telavive não prestou atenção, os Estados Unidos também não.

Tudo começou há quase uma década, quando, em 2015, os investigadores da equipa dos serviços secretos de Israel especializados em auditoria forense conseguiram finalmente mapear a vasta rede financeira do Hamas. É relativamente normal, no mundo terrorista, encontrar empresas de fachada através das quais o dinheiro é lavado, porém no caso do Hamas a trama financeira revelava uma arquitectura bem mais sofisticada: as empresas eram reais, legítimas, tal como os lucros.

A “Economist” estima que os lucros do grupo, até à invasão da Faixa da Gaza, estivessem próximos dos mil milhões de dólares por ano (cerca 908 mil milhões de euros). A revista “Forbes”, em várias análises ao longo dos últimos 10 anos, tem situado os lucros entre os 700 milhões (636 mil milhões de euros) e os tais mil milhões referidos pela “Economist”.

“O Hamas difere de outros grupos terroristas primeiro porque uma parte importante do mundo, uma parte do mundo à qual não falta folga financeira, considera o Hamas uma força de resistência não só legítima como vital no mundo árabe. Além disso, a maioria dos negócios de membros do Hamas ou dos seus mandatários não são ilegais, não são conduzidos atrás de empresas-fantasma, e por isso é mais difícil investigar e sancionar”, diz ao Expresso o investigador do Programa de Estudos do Extremismo da George Washington University Sergio Altuna.

Ninguém deu importância ao que os serviços secretos descobriram

De início, a divisão Harpoon da Mossad não conseguiu estabelecer ligações entre estas empresas e os homens do Hamas, mas depois de alguns meses de investigação, já tinha encontrado, entre os acionistas, diretores ou membros de conselhos de administração, vários homens ligados ao grupo que a Europa e os Estados Unidos consideram terrorista. Aos poucos, a árvore ia-se ramificando.

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