Guerra no Médio Oriente

Conselho de Segurança da ONU rejeita resolução russa (que não condenava o Hamas) para cessar-fogo humanitário em Gaza

Vassily Nebenzia, embaixador da Rússia na ONU
Vassily Nebenzia, embaixador da Rússia na ONU
EDUARDO MUNOZ

Estados Unidos, França, Reino Unido e Japão votaram contra o projeto, em que o ataque do Hamas em Israel não era mencionado nem condenado

O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) rejeitou hoje um projeto de resolução proposto pela Rússia que pedia um cessar-fogo humanitário imediato para aliviar a situação da população civil em Gaza.

A resolução foi rejeitada após quatro votos contra, cinco a favor e seis abstenções dos 15 Estados-membros do Conselho de Segurança, com a maioria dos países que vetou o projeto russo a criticar a falta de referência ao Hamas.

Após a votação, os Estados Unidos, um dos países a posicionar-se contra o texto, justificou a sua posição com o facto do projeto de resolução russo não condenar especificamente o Hamas pelo ataque a Israel.

"Há pouco mais de uma semana, o terror foi desencadeado em Israel pelo Hamas, cujo objetivo declarado é destruir Israel e matar judeus. Este foi o pior massacre do povo judeu desde o Holocausto.(...) E este Conselho tem a responsabilidade de ajudar a resolver esta crise humanitária, condenar inequivocamente o Hamas e reafirmar o direito inerente de Israel à autodefesa ao abrigo da Carta da ONU", disse a embaixadora norte-americana, Linda Thomas-Greenfield.

"Infelizmente, a resolução da Rússia não cumpre todas estas responsabilidades (...), não fazendo qualquer menção ao Hamas. Ao não condenar o Hamas, a Rússia está a dar cobertura a um grupo terrorista que brutaliza civis inocentes. É ultrajante, é hipócrita e é indefensável", acusou.

Também a embaixadora britânica junto à ONU, Barbara Woodward, disse não poder apoiar uma resolução que não condene os ataques terroristas do grupo islamita.

"As ações do Hamas foram um ataque existencial à própria ideia de Israel como uma pátria segura para o povo judeu. É injusto que este Conselho ignore o maior ataque terrorista da história de Israel", acrescentou.

O projeto de resolução russo apelava a "um cessar-fogo humanitário imediato, duradouro e totalmente respeitado" e "condenava veementemente toda a violência e hostilidades dirigidas contra civis e todos os atos de terrorismo", mas não continha nenhuma referência ao Hamas.

Já o embaixador russo junto à ONU, Vasily Nebenzya, lamentou que o Conselho de Segurança "volte a ficar refém do ego e das intenções egoístas" dos países ocidentais, referindo-se aos Estados Unidos, França e Reino Unido que, juntamente com o Japão, votaram contra o seu projeto - que, por outro lado, contou com votos favoráveis da China, Gabão, Moçambique, e Emirados Árabes Unidos.

"Hoje, o mundo inteiro esperou ansiosamente que o Conselho tomasse medidas para pôr fim ao derrame de sangue. Mas os países ocidentais basicamente pisotearam essas expectativas. Acreditamos que a votação de hoje (...) mostra claramente quem é a favor de uma trégua deste bombardeamento indiscriminado e da prestação de assistência humanitária", acrescentou Nebenzya, criticando "interesses puramente egoístas e interesses políticos" do ocidente.

Além de um cessar-fogo humanitário, o projeto russo pedia também a libertação de todos os reféns, o acesso à ajuda e uma retirada segura dos civis.

Apesar de ter sido rejeitado, 25 países concordaram em copatrocinar o texto russo, incluindo numerosos Estados árabes ou muçulmanos, como o Paquistão, a Turquia ou o Egito.

Até ao momento, o órgão mais poderoso da ONU, responsável por manter a paz e a segurança internacionais, não conseguiu tomar uma posição sobre o ataque do Hamas ou sobre a brutal resposta de Israel, com ataques aéreos que mataram 2.750 palestinianos e um cerco a Gaza.

Estava também prevista para a noite de segunda-feira a votação de um projeto de resolução concorrente, da autoria do Brasil, que apelava a "pausas humanitárias" para permitir o acesso humanitário sem entraves a Gaza e que rejeitava e condenava "inequivocamente os hediondos ataques terroristas do Hamas". Contudo, o texto acabou por não ir a votos.

Para ser adotada, uma resolução exige a aprovação de pelo menos nove dos 15 membros do Conselho, sem qualquer veto de um dos cinco membros permanentes (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia, China).

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