Bashar al-Assad foi retirado do seu país pelas forças russas, mas nunca teve intenção de abandonar as suas tropas, diz o próprio, na sua primeira comunicação pública desde a queda do regime que liderou durante 24 anos. O comunicadofoi publicado na página do Facebook da Presidência síria, à qual, a acreditar no documento, a equipa de Assad continua a ser acesso e também pela agência de notícias russa TASS, e pela Associated Press. “A minha partida da Síria não foi planeada nem ocorreu durante as últimas horas dos combates, como alguns afirmaram. Pelo contrário, permaneci em Damasco, desempenhando as minhas funções até às primeiras horas de domingo, 8 de dezembro de 2024", começa por escrever Assad, detalhando depois o que terá acontecido, até ao momento em que o seu avião descolou com direção a Moscovo.
“Quando as forças terroristas se infiltraram em Damasco, desloquei-me para Latáquia, em coordenação com os nossos aliados russos, para supervisionar as operações de combate. Ao chegar à base aérea de Hmeimim [base russa] nessa manhã, tornou-se claro que as nossas forças se tinham retirado completamente de todas as linhas de combate e que as últimas posições do exército tinham caído. À medida que a situação no terreno continuava a deteriorar-se, a própria base militar russa foi sendo intensamente atacada por ataques de drones. Sem meios viáveis para abandonar a base, Moscovo solicitou ao comando da base que providenciasse uma evacuação imediata para a Rússia na noite de domingo, 8 de dezembro. Isto teve lugar um dia depois da queda de Damasco, na sequência do colapso das últimas posições militares e da consequente paralisação de todas as restantes instituições do Estado”.
Em momento algum, continua o Presidente deposto, considerou afastar-se. “Durante estes acontecimentos, nunca considerei a possibilidade de me demitir ou de procurar refúgio, nem tal proposta foi feita por qualquer indivíduo ou partido. A única linha de ação era continuar a lutar contra o ataque terrorista”, mas isso não foi possível, na versão dos acontecimentos partilhada por Assad. “Quando o Estado cai nas mãos do terrorismo e uma pessoa perde a capacidade de dar um contributo significativo, qualquer posição fica vazia de objetivo. Isto não diminui, de forma alguma, o meu profundo sentimento de pertença à Síria e ao seu povo - um laço que permanece inabalável por qualquer posição ou circunstância. É uma pertença cheia de esperança de que a Síria seja de novo livre e independente”, escreveu ainda.
Passando depois para a terceira pessoa do singular, Bashar al-Assad refere os anos mais tumultuosos da guerra civil, durante os quais não abandonou a Síria, dando esse exemplo como prova de que não o faria agora. “Reafirmo que a pessoa que, desde o primeiro dia da guerra, se recusou a trocar a salvação da sua nação por ganhos pessoais, ou a comprometer o seu povo em troca de numerosas ofertas e aliciamentos, é a mesma pessoa que esteve ao lado dos oficiais e soldados do exército na linha da frente, a poucos metros dos terroristas, nos campos de batalha mais perigosos e intensos. É a mesma pessoa que, durante os anos mais negros da guerra, não partiu mas permaneceu com a sua família ao lado do seu povo, enfrentando o terrorismo sob bombardeamentos e as ameaças recorrentes de incursões terroristas na capital ao longo de catorze anos de guerra”. O ex-líder sírio diz ainda nunca abandonou a luta “nem no Líbano nem na Palestina” e “nem traiu os aliados que o apoiaram”. Fica a faltar saber se considera que os aliados o traíram a ele não tendo voltado em força para defender o seu regime, como aconteceu em 2015.
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