Desde o início da agressão militar russa em larga escala, em fevereiro de 2022, mais de 80.000 episódios de crimes de guerra foram documentados pelo “Tribunal para Putin”, uma iniciativa criada por Oleksandra Matviichuk e outros parceiros para relatar as atrocidades cometidas pela Rússia na Ucrânia. A advogada de 41 anos, natural de Kiev, é diretora da Center for Civil Liberties (Centro para as Liberdades Civis, em português), uma organização internacional fundada em 2007 que trabalha para proteger os direitos humanos e a democracia na Ucrânia.
Há dois anos, Oleksandra Matviichuk e a sua associação foram galardoadas com o Nobel da Paz. “Há muitos anos que promovem o direito de criticar o poder e de proteger os direitos fundamentais dos cidadãos. Fizeram um esforço notável para documentar os crimes de guerra, as violações dos direitos humanos e o abuso de poder. Demonstram a importância da sociedade civil para a paz e a democracia”, justificou, na altura, a academia sueca. “O prémio deu a oportunidade aos defensores dos direitos humanos como eu de serem ouvidos, porque durante décadas não fomos”, diz a ativista.
Em entrevista ao Expresso à margem da 9.ª edição das Conferências do Estoril, na faculdade Nova SBE, em Carcavelos, Lisboa, explica que o Nobel não foi “a maior mudança da sua vida”: “Foi a guerra em grande escala, porque arruinou tudo aquilo a que chamamos vida normal”. Entre condenações a Moscovo e apelos ao Ocidente, Matviichuk lembrou que “as tropas russas cometeram crimes horríveis noutros países do mundo e nunca foram punidas”. “Se não formos capazes de travar Putin na Ucrânia, ele vai mais longe”, afirmou, alertando os países democráticos que não basta “ajudar a Ucrânia a não falhar” — “Temos de mudar a narrativa para ‘vamos ajudar a Ucrânia a vencer’”.
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