A maior cidade da parte Ocidental da Ucrânia, a 70 quilómetros da Polónia, um país da NATO, tem sido poupada a ataques russos com mísseis e drones. A noite de 4 de setembro foi uma terrível exceção. Sete pessoas perderam a vida, 45 ficaram feridas, onze das quais em estado crítico, num dos maiores ataques a Lviv desde o início da invasão da Ucrânia, em 2022. Nenhum dos prédios atingidos era alvo militar ou infraestrutura. Yaroslav Bazilevych perdeu tudo nessa noite. A mulher e as três filhas estavam na sua casa reduzida a pó. Sexta-feira passada, Lviv uniu-se na hora do último adeus a esta família mártir
Cheguei à Ucrânia no dia 30 de agosto, depois de longas férias de verão em Portugal. De Lisboa para Budapeste de avião, para horas depois atravessar a fronteira húngara com destino a Uzgorod, já na Ucrânia. Dali, de comboio até Lviv, o meu destino, quase 24 horas depois. O comboio ziguezagueava pelos vales no sopé das montanhas dos Cárpatos a um ritmo de quem se habituou a esperar. Ideal para contemplar a paisagem. Aqui não há mísseis nem drones. A guerra parece distante, e só se nota através da mobilização dos homens para combater.
Dentro do comboio no meu camarote seguiam Katya e a sua filha Vassilysa, de 4 anos, de regresso à Ucrânia após meses divididos entre a Eslováquia e a sua cidade natal, Kharkiv. “Sou médica especializada em radiologia”, conta Katya ao Expresso. “Por fim consegui o certificado que reconhece o meu diploma na União Europeia. Com esta aprovação já posso trabalhar na Eslováquia”, resume, confiante. Pergunto-lhe o que a leva a voltar a Kharkiv, cidade tão perigosa, com uma filha pequena. “Há muito menos médicos na cidade. Para mim, recém-formada, pode ser uma oportunidade. Há também muita procura da minha especialidade, posso aprender muito no meu trabalho.”
Vassilysa não cessa de correr e tentar chamar a atenção. Acabou a refeição que Katya trouxe preparada em marmitas — panados e greshka [trigo sarraceno] —, acompanhada com chá, em copos de vidro.
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