Guerra na Ucrânia

Kiev diz que condições de Putin para acordo são “contrárias ao bom senso”

Kiev diz que condições de Putin para acordo são “contrárias ao bom senso”
Global Images Ukraine

De acordo com Mykhailo Podoliak do Presidente Zelensky, as condições são "altamente ofensivas para a legalidade internacional" e demonstram a "incapacidade" do regime russo para "avaliar adequadamente a realidade"

A Ucrânia desvalorizou esta sexta-feira a proposta do Presidente russo, que prometeu iniciar negociações de paz se Kiev se retirar de quatro regiões e abdicar de aderir à NATO, com o conselheiro da Presidência ucraniana a classificá-la como "contrária ao bom senso".

"Temos de nos livrar destas ilusões e deixar de levar a sério as 'propostas' da Rússia, que são contrárias ao bom senso", afirmou hoje Mykhailo Podoliak, conselheiro da Presidência ucraniana.

"Não existem novas propostas de paz por parte da Rússia. A entidade Putin simplesmente formulou o 'pacote padrão do agressor' que já ouvimos muitas vezes", disse Podoliak, na sua conta na rede social X.

De acordo com o conselheiro presidencial, as condições impostas por Putin para declarar um cessar-fogo - que incluem, para além da retirada ucraniana dos territórios ocupados pela Rússia, a renúncia de Kiev à adesão à NATO - são "altamente ofensivas para a legalidade internacional" e demonstram a "incapacidade" do regime russo para "avaliar adequadamente a realidade".

"Ponto por ponto, a 'proposta da Federação Russa' consiste em: '1. Cedam-nos os vossos territórios. 2 - Abandonem a vossa soberania e deixem de ser uma entidade. 3. Cedam a vossa proteção (sem adesão e alianças)", escreveu Podoliak, que recordou ainda que o Presidente russo, Vladimir Putin, espera que as sanções internacionais sejam levantadas em troca desse acordo.

O conselheiro presidencial ucraniano descreveu a mensagem de Putin como uma "farsa", que, afirmou, mostra que ele quer "não pagar por esta guerra e continuá-la em novos formatos".

O Presidente russo, Vladimir Putin, prometeu hoje ordenar "imediatamente" um cessar-fogo na Ucrânia e iniciar negociações se Kiev começasse a retirar as tropas das quatro regiões anexadas por Moscovo em 2022 e renunciasse aos planos de adesão à NATO.

"Assim que Kiev (...) iniciar a retirada efetiva das tropas [das regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia], e assim que notificar que está a abandonar os seus planos de aderir à NATO, daremos imediatamente, nesse preciso momento, a ordem para cessar-fogo e iniciar as negociações", disse Putin aos funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

Estas reivindicações constituem uma exigência de facto para a rendição da Ucrânia, cujo objetivo é manter a sua integridade territorial e soberania, mediante a saída de todas as tropas russas do seu território, além de Kiev pretender aderir à aliança militar.

Putin fez esta oferta de cessar-fogo na véspera da chamada Cimeira de Paz da Ucrânia, que se realiza este fim de semana na Suíça, e que contará com a presença de representantes de cerca de 100 países e organizações internacionais.

Kiev pretende obter o maior número possível de apoiantes para a sua Fórmula de Paz, um documento que exige, entre outras coisas, a retirada total da Rússia de todos os territórios que ocupa na Ucrânia.

Num comunicado publicado esta sexta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano interpretou o momento em que Putin apresentou a sua proposta como uma tentativa de "impedir" a participação dos líderes internacionais na Cimeira da Paz da Ucrânia, que, segundo a diplomacia ucraniana, servirá para criar uma coligação internacional para avançar para "uma paz justa".

"Putin não quer a paz, mas sim dividir o mundo", acrescenta o comunicado, que qualifica a mensagem do Presidente russo de "absurda" e insiste que as condições propostas pelo Kremlin para um cessar-fogo só significariam "a continuação da guerra" e "a ocupação da Ucrânia".

Entretanto, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, apelou ao Ocidente para que ouça a proposta russa.

"Todas as vezes que o Ocidente rejeitou as nossas propostas, não trouxe nada de bom", afirmou, numa declaração transmitida em direto pela televisão russa.

Lavrov disse que os embaixadores russos "vão entregar o texto do discurso do Presidente às capitais relevantes, explicar o que ele quer dizer" e Moscovo ficará a aguardar "as reações que se seguem".

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