A Rússia denunciou esta sexta-feira que as armas norte-americanas já estão a ser utilizadas pela Ucrânia para atingir o território russo, um dia depois de os Estados Unidos terem autorizado Kiev a usá-las para esse efeito.
"Sabemos (...) que as armas de fabrico norte-americano já estão a ser utilizadas para tentar atingir o território russo", disse o porta-voz do Kremlin (presidência), Dmitri Peskov, aos jornalistas.
"Isto mostra de forma bastante eloquente o grau de envolvimento dos Estados Unidos neste conflito", afirmou, citado pela agência francesa AFP.
A Ucrânia saudou a autorização norte-americana para a utilização de armas ocidentais contra alvos na Rússia, sujeita a condições, considerando que será um reforço significativo para se defender dos ataques russos.
"Esta medida reforçará significativamente a nossa capacidade de contrariar as tentativas russas de se massificar em ambos os lados da fronteira", afirmou Sergei Nykyforov, porta-voz do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, citado pela agência francesa AFP.
Fontes da Administração norte-americana disseram na quinta-feira que o Presidente Joe Biden autorizou a Ucrânia a usar armas fornecidas pelos Estados Unidos para atacar alvos em solo russo na região de Kharkiv, sob certas condições.
"O Presidente deu à sua equipa a tarefa de garantir que a Ucrânia possa utilizar as armas norte americanas para contra-atacar na região de Kharkiv, de modo a retaliar quando as forças russas as atacarem ou se prepararem para as atacar", disse uma fonte à AFP.
A mesma fonte, que pediu para não ser identificada, acrescentou, no entanto, que os Estados Unidos continuam a opor-se a ataques ucranianos profundos em território russo.
Além dos Estados Unidos, a Alemanha anunciou hoje que também autorizou a Ucrânia a utilizar armas alemãs contra alvos militares na Rússia para se defender dos ataques lançados por Moscovo, nomeadamente na região de Kharkiv (nordeste).
"A Ucrânia tem o direito, garantido pelo direito internacional, de se defender destes ataques. Para o fazer, pode também utilizar as armas fornecidas para o efeito, incluindo as que nós fornecemos", afirmou Steffen Hebestreit, porta-voz do chanceler Olaf Scholz num comunicado.
A decisão segue-se a uma autorização dada também pelos Estados Unidos para utilização de armas norte-americanas contra alvos na Rússia, sob certas condições.
"Nas últimas semanas, a Rússia preparou, coordenou e levou a cabo ataques, especialmente na região de Kharkiv, a partir de posições na zona fronteiriça russa imediatamente adjacente", disse o porta-voz de Scholz.
"Estamos convencidos de que a Ucrânia tem o direito, garantido pelo direito internacional, de se defender contra estes ataques", insistiu, citado pela agência francesa AFP.
A Alemanha, tal como outros países aliados, tinha até agora excluído a utilização das armas que fornece a Kiev em território russo, por receio de uma escalada.
Vários países alteraram a posição nas últimas semanas, incluindo a França e, desde quinta-feira, os Estados Unidos, pressionando a Alemanha.
Numa conferência de imprensa conjunta na Alemanha com o Presidente francês, Emmanuel Macron, na terça-feira, Scholz manteve-se evasivo, afirmando que a Ucrânia tinha o direito de se defender ao abrigo do direito internacional.
O líder alemão não especificou se o direito de defesa ucraniano incluía a utilização de armas ocidentais em instalações militares na Rússia.
Após a invasão russa, a Alemanha abandonou a posição tradicionalmente pacifista para se tornar o segundo maior fornecedor de ajuda militar à Ucrânia em termos absolutos, atrás dos Estados Unidos.
Desde então, Berlim tem fornecido uma vasta gama de armamento, desde artilharia a veículos blindados de combate.
O ministro da Defesa, Boris Pistorius, prometeu na quinta-feira um novo pacote de ajuda militar de 500 milhões de euros à Ucrânia, durante uma visita surpresa à cidade portuária de Odessa, no sul da Ucrânia.
Os dirigentes ucranianos têm-se queixado das hesitações e atrasos no fornecimento de armamento por parte dos aliados ocidentais.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, está hoje em Estocolmo para pedir mais armamento aos cinco aos cinco aliados nórdicos (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia).
A Rússia tem alertado que a utilização de armas ocidentais para atacar o seu território constituirá uma escalada perigosa do conflito, ameaçando mesmo com a possibilidade de recorrer a armas nucleares.