O ministro da Defesa segue a lógica do presidente francês e do chanceler alemão e defende que Kiev possa utilizar armas ocidentais contra alvos em território russo, sempre numa lógica de "esforço defensivo".
"Imagine que tem peças de artilharia colocadas em território russo que estão a ser utilizadas para flagelar as linhas ucranianas. Os ucranianos estão inibidos de tentar destruir essas peças de artilha? Qualquer pessoa normal percebe que isso não faria muito sentido", afirmou Nuno Melo, à margem do Fórum Schuman de Defesa e Segurança, em Bruxelas.
"Esta avaliação é clara, é lógica e não deixa razão para grandes dúvidas", adianta ainda, dando como exemplo as "peças de artilharia colocadas em território de fronteira russo" utilizadas "para assassinar ucranianos, para destruir cidades, para atingir alvos civis".
Melo vai mais longe do que Paulo Rangel. Em entrevista à SIC, o ministro dos Negócios Estrangeiros tinha mostrado relutância a essa possibilidade. "Somos um pouco relutantes quanto a isso, não temos posição fechada", afirmou. "No caso português, acho que devemos manter alguma prudência e evitar toda a escalada, manter alguma contenção".
O Governo não tem posição fechada e Rangel admitiu mesmo que ainda pode haver discussão na NATO ou na UE. "Logo veremos", dizia esta terça-feira à noite, no final da visita do Presidente ucraniano a Portugal.
Nuno Melo diz o que pensa, mas também garante que o que defende não compromete o executivo, nem Portugal. "Uma perspetiva que é a minha, eu não quero com isso vincular o Governo", afirmou aos jornalistas.
Volodymyr Zelensky tem insistido para que os Aliados o deixem utilizar o armamento fornecido contra alvos em solo russo. Até agora, tem vigorado a utilização só em território ucraniano. "Vemos a posição deles (dos russos), mas não podemos responder. Acho que é injusto. Por favor, deem-nos a oportunidade de retaliar contra o exército deles", repetiu o presidente ucraniano esta terça-feira, em Bruxelas, ao lado do primeiro-ministro belga, Alexander De Croo. A Bélgica é um dos países que rejeita a utilização das armas e equipamento fornecido em solo russo.
Também o Secretário-Geral da Nato tem defendido que os Aliados - caso dos Estados Unidos - devem reconsiderar as restrições impostas à utilização das armas que enviam para Kiev. Jens Stoltenberg argumenta que se for com objetivos defensivos isso não arrasta os Aliados para Guerra. "Temos de nos lembrar que isso não faz com que a NATO seja parte do conflito. Temos o direito de dar apoio à Ucrânia para que exerça o direito à autodefesa", afirmou esta terça-feira.
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