Guerra na Ucrânia

CERN confirma saída de 500 cientistas russos, Moscovo critica “decisão politizada” e agradece “presente”: guerra na Ucrânia, dia 766

CERN confirma saída de 500 cientistas russos, Moscovo critica “decisão politizada” e agradece “presente”: guerra na Ucrânia, dia 766
VALENTIN FLAURAUD

Organização Europeia de Investigação Nuclear, sediada na Suíça, avança em dezembro para a “suspensão do acordo de cooperação” com a Rússia. Relatório da ONU denuncia “clima sufocante de medo” em território ucraniano: “As pessoas foram encorajadas a denunciarem-se umas às outras”.

CERN confirma saída de 500 cientistas russos, Moscovo critica “decisão politizada” e agradece “presente”: guerra na Ucrânia, dia 766

Tiago Soares

Jornalista

Os protocolos de colaboração entre o Instituto Kurchatov e a Organização Europeia de Investigação Nuclear (CERN) vão terminar no final de novembro, e os responsáveis do centro de investigação sediado na Suíça confirmaram que vão dispensar cerca de 500 cientistas russos.

“A suspensão do acordo de cooperação entrará em vigor em 30 de novembro deste ano", confirmou Arnaud Marsollier, porta-voz do CERN, à agência estatal russa RIA, sublinhando que a maioria destes 500 funcionários – engenheiros e físicos, na sua maioria – já nem sequer estão na Suíça.

Especializado m física de partículas, o CERN é um dos laboratórios mais avançados do mundo: foi fundado em 1954, tem atualmente 23 estados-membros, e é onde foi provada a existência do bosão de Higgs.

Alguns destes especialistas russos estavam a trabalhar no Grande Colisor de Hádrons, o maior acelerador de partículas do mundo, mas o seu trabalho já foi distribuído por cientistas de outras nacionalidades.

No início da invasão contra a Ucrânia, em junho de 2022, o CERN já tinha sublinhado a intenção de não renovar os acordos de cooperação que tinham com as entidades russas. Estes acordos duram cinco anos e são normalmente renovados tacitamente.

Mikhail Kovalchuk, diretor do Instituto Nuclear Kurchatov, mostrou-se extremamente satisfeito com o fim do acordo. “Eles são funcionários do nosso instituto, são nossos funcionários. Na verdade, o regresso destes especialistas – que nós treinamos e educamos – é um presente para o nosso país”; afirmou o chefe do centro nuclear russo, sediado em Moscovo.

Kovalchuk sublinhou ainda que estas 500 pessoas partilham a “ideologia” do Kremlin. A ligação com o sector científico da Biolorussia também vai ser terminada, mas só em junho do próximo ano.

No entanto, o ministério dos Negócios Estrangeiros criticou a decisão do CERN: “É uma decisão politizada e absolutamente inaceitável, porque contradiz o espírito de cooperação na ciência”, afirmou o Kremlin em comunicado.

“As pessoas foram encorajadas a denunciarem-se umas às outras”

A Rússia "criou um clima sufocante de medo nas zonas ocupadas da Ucrânia" e tem cometido "violações generalizadas do direito internacional humanitário" , denuncia um relatório hoje divulgado pelo gabinete de Direitos Humanos da ONU.

Após mais de 2300 entrevistas a vítimas e testemunhas, o documento assinala que a Rússia tomou medidas para “impor a língua, a cidadania, as leis, o sistema judicial e os currículos educativos russos nas zonas ocupadas”. “Cometeram violações generalizadas, incluindo a detenção arbitrária de civis, muitas vezes acompanhada de tortura e maus-tratos, em alguns casos equivalentes a desaparecimentos forçados”, notam os investtigadores, falando em “impunidade generalizada”.

“As pessoas foram encorajadas a denunciarem-se umas às outras, ficaram com medo dos seus próprios amigos e vizinhos", acrescentam ainda os responsáveis sublinhando também os esforços de Moscovo para restringir o acesso à Internet, redes móveis e televisões ucranianas.

Ao mesmo tempo, desde o início da invasão que tem suprimido as expressões da cultura e da identidade ucranianas – e isso teve “um impacto especial nas crianças", nota o relatório. É exemplo disso a substituição do currículo ucraniano pelo currículo russo em muitas escolas, e a introdução de "manuais escolares com narrativas que procuram justificar o ataque armado à Ucrânia".

Outras notícias

> Também sobre manuais escolares pró-russos, mas na Itália: o ministério da Educação anunciou hoje que vai averiguar denúncias sobre a utilização em algumas escolas do país de manuais de História e Geografia com “distorções e factos errados sobre a Rússia. Há dezenas de textos publicados entre 2017 e 2023 que "contam os acontecimentos na versão de Putin", denunciaram ativistas ucranianos. A história é contada pelo jornal La Repubblica.

> As forças russas mataram três pessoas e feriram outras cinco num ataque a um prédio de oito andares na cidade de Kharkiv, no norte da Ucrânia. As bombas causaram um incêndio que se estendeu ao longo de um quilómetro, segundo as autoridades locais.

> Por outro lado, forças pró-ucranianas continuam a atacar posições russas junto à fronteira: duas pessoas morreram e duas outras ficaram feridas na região de Belgorod. Segundo o governador russo, houve outra vítima mortal de um segundo ataque. O fecho preventivo das escolas e outras medidas de segurança vão ser alargadas. “Faremos tudo o que depender de nós”, prometeu Putin às populações.

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