Pela primeira vez desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, Vladimir Putin respondeu a perguntas de cidadãos e jornalistas numa conferência de imprensa que se realiza anualmente. Em 2022, a tradição quebrou-se, pela primeira vez numa década. As razões apresentadas pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, já se esperavam: o Presidente russo estava concentrado no esforço de guerra e não fazia sentido um discurso seguido de sessão de perguntas sobre um tema tão presente na vida nacional.
Os comentadores ocidentais apontaram outras razões: umas relativas à saúde do Presidente (dias antes do dia programado para o discurso, Putin foi filmado a cambalear), outras ao medo de críticas à guerra que encontrassem caminho até à lista de perguntas autorizadas pela sua equipa. Difícil, mas não impossível.
Este ano, estiveram em destaque a guerra, a posição face ao Ocidente e questões económicas. Desde logo, com Putin a afirmar que “a existência [da Rússia] sem soberania é impossível” e a frisar a necessidade de reforçar o poder militar e segurança fronteiriça. Como sempre, a conferência durou toda uma manhã. Vale a pena observar que a abertura para ouvir a população e ser questionado se dá dentro de um ambiente controlado. A cientista política Sandra Fernandes, especialista em Relações Internacionais na Universidade do Minho, frisa que as perguntas escolhidas “são tudo discos pedidos” e que o evento “é orquestrado ao milímetro”.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: afranca@impresa.pt