Foi com uma mensagem áudio difundida no Telegram que Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo Wagner, anunciou o fim da marcha em direção a Moscovo, este sábado: “Eles iam desmantelar o grupo Wagner. Decidimos avançar no dia 23 para a ‘marcha da justiça’. Num dia, percorremos uma distância de até quase 200 quilómetros de Moscovo. Durante este tempo, não foi derramada uma única gota de sangue dos nossos combatentes. Agora, chegou o momento em que o sangue pode ser derramado. Foi por isso que, compreendendo a responsabilidade de derramar sangue russo dos dois lados, decidimos recuar a nossa coluna militar e regressar à nossa base de acordo com o plano”.
Ficam muitas dúvidas para esclarecer, até no percurso que foi efetuado, mas podemos olhar para o mapa da Rússia e perceber como o avanço foi considerável: o grupo Wagner deu “meia volta” algures após passar Elets, a cerca de 400 quilómetros de Moscovo, apesar de Prigozhin garantir ter avançado mais 200 quilómetros.
Entre Rostov-on-Don, cidade que o grupo Wagner controlou pelo menos parcialmente este sábado de manhã (tomando o quartel-general do Distrito Militar Sul das Forças Armadas Russas e outras posições importantes), e Moscovo há cerca de 1175 quilómetros, o equivalente a 14 horas de viagem. É certo que a milícia paramilitar percorreu pelo menos dois terços desse trajeto, utilizando a autoestrada M-4.
Pelo caminho, o grupo Wagner garantiu ter tomado controlo de todas as infraestruturas militares de Voronezh, onde também houve relatos do bloqueio da autoestrada M4 por parte do governo regional. Nesse momento, na capital, já tinham sido aplicadas medidas antiterroristas anunciadas pelo presidente da Câmara.
O grupo Wagner chegou ainda a Lipetsk, fora do percurso da M4, de acordo com informação confirmada pelo governador da região.
Que tipo de acordo terá sido negociado para travar esta marcha? O comunicado oficial do governo bielorrusso, que mediou a negociação, fala da aceitação por Prigozhin de “uma opção aceitável”, com garantias de segurança para os seus paramilitares. Resta também saber para que “base” regressa o grupo Wagner: será possível voltar a combater na Ucrânia ao lado das forças russas?
Atualizado às 20h30, com o recuo do grupo Wagner.
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