A Rússia está a considerar abandonar o acordo sobre a exportação de cereais ucranianos, principalmente porque, segundo Moscovo, as cláusulas sobre a exportação de fertilizantes russos não foram respeitadas, disse esta terça-feira Vladimir Putin.
"Estamos agora a pensar em retirar-nos deste acordo sobre cereais (...). Muitas das condições que deveriam ser aplicadas não foram respeitadas", disse Vladimir Putin durante um encontro televisivo com correspondentes de guerra russos.
Putin acusou ainda Kiev de utilizar os corredores marítimos previstos no acordo para atacar a frota russa com drones.
O acordo permitiu exportar, nos últimos dez meses, mais de 30 milhões de toneladas de cereais ucranianos e aliviar a crise alimentar global causada pela guerra.
Moscovo afirma que, apesar de as exportações de cereais ucranianos terem sido retomadas, as exportações russas de fertilizantes e produtos alimentares continuam limitadas por obstáculos relacionados com as sanções impostas pelos países ocidentais após o início da guerra russa na Ucrânia, em fevereiro do ano passado.
No mês passado, as autoridades da Federação Russa avisaram que só se manterão no acordo depois de 18 de julho se forem levantadas as sanções sobre as exportações dos fertilizantes russos.
As queixas de Putin
Putin considera que o seu país foi enganado e que "nada" foi feito para remediar a situação causada pelos efeitos colaterais das sanções ocidentais, que não afetam diretamente os produtos alimentares mas que, segundo as Nações Unidas, dificultam as vendas russas devido a questões de seguros, pagamentos e ao receio de as empresas violarem as sanções.
Além disso, o Presidente russo criticou o destino das exportações ucranianas de cereais facilitadas pelo acordo, afirmando que uma grande parte delas vai para a União Europeia (UE).
A Rússia não assinou este acordo para favorecer a Ucrânia, "mas para os nossos países amigos em África e na América Latina. Porque os cereais devem ir, antes de mais, para os países mais pobres", insistiu Putin.
Questionado sobre as declarações do Presidente russo, Dujarric, porta-voz da ONU, recordou que a organização não tem nada a dizer sobre os "contratos comerciais" que orientam estas vendas e recordou que os dados são públicos.
China, Espanha, Turquia, Itália, Holanda, Egito, Bangladesh e Israel são atualmente os países que mais produtos receberam da Ucrânia, de acordo com os dados da ONU.
Em todo o caso, o porta-voz insistiu que a saída destes produtos melhorou a situação dos preços dos alimentos a nível mundial.
Questionado sobre outra alegação do Kremlin - de que a Ucrânia usaria os corredores marítimos para lançar ataques de drones - Dujarric disse não ter informações sobre o assunto.
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