“Muito bem, fazemos isso" - a mensagem, inesperada, surgia no ecrã. No Messenger, do Facebook, a imagem da figura mítica do pretenso ideólogo de Putin não dissipava imediatamente as dúvidas – a resposta, daquele perfil ou de outros em que o nome Dugin aparecia, era esperada há muito tempo.
Aleksandr Dugin, o doutrinário do ocultismo, escrevera em português. Uma recusa à língua do liberalismo, uma chapada com luva perante o talvez afrontoso dear mr. Dugin que lhe escrevera. Nada que, por um lado, surpreendesse: várias vezes debatera, na língua da saudade - o seu saudosismo é outro -, com Olavo de Carvalho (um dos grandes ideólogos de Bolsonaro e da extrema-direita mundial) as teorias de um mundo multipolar. Por outro lado, não se podia dizer que qualquer coisa que Dugin fizesse não causasse espanto. Até ter aceitado dar uma entrevista, depois de meses de silêncio nos media ocidentais. O encontro foi marcado via Zoom, às “12h de Moscovo” – à hora estipulada, cumpriu a promessa e respondeu a tudo durante cerca de 60 minutos.
Fora sempre muito seletivo com as suas intervenções, mas, desde a morte da filha, Darya Dugina, em agosto de 2022, numa explosão no carro em que seguia, optou mesmo pelo recato. Em entrevista ao Expresso, na quarta-feira, o filósofo e cientista político russo, que muitos creem ser o ideólogo de Vladimir Putin, garantiu que é um alvo, numa luta armada pelas ideias: “As pessoas no mundo que partilham a minha posição estão a aumentar em África, na América Latina, na Ásia, no mundo árabe. (…) Há um processo orgânico que eles não conseguem parar. Foi por isso que finalmente decidiram matar-me. Porque não conseguiam matar-me intelectualmente e espiritualmente, mataram a minha filha, tentaram matar-me.” É uma guerra intelectual, diz. E o filósofo e defensor do “mundo russo” pode estar a marcar pontos onde os olhos do Ocidente não vislumbram.
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