Numa conferência de imprensa, sem direito a perguntas, em Brasília, no Palácio Itamaraty, entre os chefes das duas diplomacias que pertencem ao bloco dos BRICS, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil afirmou que as sanções económicas impostas à Rússia têm "impactos nas economias de todo o mundo, principalmente nas dos países em desenvolvimento que ainda não recuperaram da pandemia".
"Estamos agradecidos à parte brasileira e estamos a agradecer a posição", respondeu o homólogo russo de Mauro Vieira, Sergey Lavrov. Lavrov agradeceu, ainda, aos parceiros brasileiros pela cordialidade, confiança e amizade e pelos "princípios de igualdade e respeito e que não dependem de mudanças de conjuntura mundial".
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo elogiou tanto a visão do Brasil como a da Rússia, “que são únicas”, na procura por uma “ordem mundial mais justa, correta, baseada no Direito Internacional e “numa ideia para o mundo que é multipolar". Lavrov criticou as sanções unilaterais e afirmou que "não são legítimas e estão a impedir o trabalho de várias organizações".
Ainda assim, do lado brasileiro, Mauro Viera frisou que a posição brasileira é de um "cessar-fogo imediato" e que o Brasil quer "contribuir para uma solução pacífica do conflito" e facilitar a mediação de "negociações entre Rússia e Ucrânia".
O governante russo, ao elogiar o Presidente brasileiro, Lula da Silva, e a sua política externa, afirmou ser a "favor da participação do Brasil como membro permanente" no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A diplomacia brasileira, tanto durante a presidência de Jair Bolsonaro, como agora nos pouco mais de 100 dias de Governo de Lula da Silva, tem procurado manter-se neutra em relação à invasão russa. O Brasil tem procurado juntar países como a China, Indonésia e Emirados Árabes Unidos para a criação de um grupo que quer ser conhecido como "grupo da paz".
Na semana passada, Lula da Silva afirmou que o país invadido poderá ter de ceder a Crimeia. "O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, não pode ficar com o território da Ucrânia. Talvez se discuta a Crimeia. Mas o que ele invadiu de novo, tem que se repensar", disse Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, durante um encontro com jornalistas.
No sábado, durante a viagem de Lula da Silva à China, a convite do seu homólogo chinês, Xi Jinping, o Presidente brasileiro culpou a União Europeia e os Estados Unidos de incentivarem a guerra. "Os Estados Unidos devem parar de encorajar a guerra e começar a falar de paz, a União Europeia deve começar a falar de paz", disse Lula da Silva aos jornalistas, em Pequim.
Um dia depois, no domingo, nos Emirados Árabes Unidos (EAU), o chefe de Estado brasileiro afirmou que "a Europa e os EUA continuam a contribuir para a continuação da guerra. Portanto, têm de se sentar à volta da mesa e dizer: 'basta'".
Para além disso, sublinhou também que o "Presidente Putin não está a tomar qualquer iniciativa para parar a guerra, Zelensky, da Ucrânia, não está a tomar qualquer iniciativa para parar a guerra".
No início deste mês, durante a visita do conselheiro especial para os Assuntos Internacionais da Presidência Brasileira, Celso Amorim, a Moscovo, o Presidente russo convidou o seu homólogo brasileiro a visitar a Rússia. Depois do Brasil, Lavrov deverá seguir a viagem latino-americana para a Venezuela, Cuba e Nicarágua, alguns dos principais aliados do Kremlin na região.