Exclusivo

Guerra na Ucrânia

“Toda a comunicação social independente é inconveniente para as autoridades russas”

Katerina Abramova é responsável pela angariação de fundos para manter ativo o site informativo independente russo Meduza
Katerina Abramova é responsável pela angariação de fundos para manter ativo o site informativo independente russo Meduza
D.R.
Se jornalistas internacionais são presos na Rússia, a perseguição lançada a repórteres russos é ainda mais intensa. A Procuradoria-Geral da Federação proibiu a maior plataforma digital de jornalismo independente de divulgar conteúdos. No entanto, o site Meduza contraria a censura de guerra, ao enviar newsletters, podcasts e partilhar publicações nas redes sociais, que contornam o bloqueio imposto à página digital. O Expresso entrevistou Katerina Abramova, diretora de comunicação e responsável pelo crowdfunding deste meio de comunicação

Tomás Guerreiro

As autoridades russas sentenciaram o fim da Meduza, uma das maiores plataformas de jornalismo digital independente, depois de a Procuradoria-Geral russa a ter considerado uma “organização indesejável”, que “representa uma ameaça aos fundamentos da ordem constitucional e da segurança nacional do país”.

Este órgão de comunicação social em russo e inglês foi o primeiro a ser obrigado a apresentar-se como “agente estrangeiro” — segundo legislação aprovada em Moscovo em 2012 — por “receber influência do estrangeiro ou captar recursos financeiros do exterior”. Este enquadramento jurídico permite que os procuradores encerrem as entidades identificadas, com sentença judicial num processo de pendor criminal se as considerarem “indesejáveis” à ordem pública.

O jornal digital Meduza foi fundado em 2014 por jornalistas russos na capital da Letónia. Revelou-se uma das fontes mais fiáveis e independentes na cobertura da invasão à Ucrânia. O website está bloqueado na Internet russa desde a emissão de uma sentença judicial que proibiu as publicações editoriais, sob pena de processos criminais contra jornalistas, correspondentes, fontes de informação e patronos.

Katerina Abramova, diretora de comunicação e responsável pelo crowdfunding da Meduza, desvenda ao Expresso as técnicas utilizadas pela publicação para os conteúdos serem transmitidos na Rússia. “Os canais nas redes sociais e plataformas de podcast são consultados por milhões de pessoas, além das newsletters que enviamos diariamente”, afirma. O povo russo pode consumir sem represálias os conteúdos que a Meduza divulga, mas não partilhá-los nas redes sociais nem descarregá-los para o telemóvel.

Como começou o conflito judicial da Meduza?
Não existe um conflito particular entre a Meduza e a justiça. Há oito anos, quando começámos, era óbvio que o jornalismo independente não é bem-vindo na Rússia. A situação degradou-se a cada ano. Qualquer Estado totalitário tenta censurar os jornais. Há dois anos fomos o primeiro órgão de comunicação de massas russo e independente a receber o rótulo de agente estrangeiro. Depois, todos os outros foram discriminados. Torna-se nítido que as autoridades se preparavam para a guerra, porque os media eram atacados brutalmente. O conflito não é entre a Meduza e as autoridades, é entre a verdade e as autoridades. É a censura de guerra, é a negação da verdade e a manipulação.

Artigo Exclusivo para assinantes

Assine já por apenas 1,63€ por semana.

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas