Em abril de 2022, menos de dois meses depois da invasão da Ucrânia, uma aluna de uma escola russa fez um desenho que chocou os seus professores. De um lado desenhou uma criança ucraniana e a sua mãe, com uma bandeira do país e a frase “Glória à Ucrânia”. Do outro desenhou uma bandeira russa, com a frase “Não à guerra” escrita dentro da bandeira. O crime não ficou sem culpado.
A 2 de março deste ano, Moskalev foi colocado em prisão domiciliária, à espera da sentença. Na noite de 28 de março, sabendo que tinha pouco tempo para escapar até à sua prisão efetiva, fugiu. Porém, a perspectiva de liberdade durou pouco. Alexei Moskalev, 54 anos, pai solteiro, foi esta quinta-feira preso em Minsk, capital da Bielorrússia, escreve a agência “Reuters”.
As autoridades russas negam que Moskalev tenha sido condenado por causa do desenho da sua filha. Segundo a acusação, há muito que este homem recorria às redes sociais para desacreditar repetidamente a campanha militar de Vladimir Putin na Ucrânia, algo que Moskalev nega. O advogado que o representa, Dmitry Zakhvatov, disse à televisão independente em língua russa TV Rain que a operação foi coordenada ao mais alto nível: “Posso dizer que esta operação para recapturar Moskalev foi desenvolvida ao mais alto nível. Foi sancionada e executada pelos bielorrussos, mas coordenada entre o FSB [serviços secretos russos] e o KGB [o equivalente bielorrusso]”.
É possível que as autoridades bielorrussas tenham localizado Moskalev depois de este ter ligado o seu telemóvel, ao chegar a Minsk. Pelo menos é esta a teoria do seu advogado, que também falou com a agência “Reuters” sobre o caso.
Ainda não se sabe por que razão Moskalev terá escolhido precisamente a Bielorrússia como país de fuga, pode não ter tido outra opção. Muitos dissidentes russos optam por fugir por esta fronteira, há várias razões que podem justificar esta opção: uma é o facto de ser muito mais porosa do que a fronteira da Rússia com a Noruega - onde há controlos apertadíssimos à entrada de cidadãos russos. Sair pela Geórgia é complicado para quem não vive no sul da Rússia. Moskalev vivia a sul de Moscovo, em Yefremov, a cerca de 300 quilómetros da capital, mas ainda assim a Bielorrússia é mais perto do que Geórgia, que fica a 1700 quilómetros desta cidade. Pela Ucrânia é praticamente impossível entrar neste momento.
A saga da família Moskalev começou quando os professores da adolescente chamaram a polícia depois de ver o desenho. Seguiram-se as buscas da polícia na casa onde pai e filha viviam e a multa a Alexei Moskalev por ter feito uma publicação nas redes sociais que as autoridades consideraram antiguerra. Masha foi separada do pai e está a viver numa associação que acolhe crianças de famílias disfuncionais. Há um mês que não contacta com o progenitor, escreve a BBC. Uma outra fonte citada pela cadeia de televisão britânica disse não saber se a adolescente foi informada que o seu pai fugiu e foi recapturado.
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