Guerra na Ucrânia

"Queridos" amigos em cimeira em Moscovo: Putin admite que plano de Xi pode ser o ponto de partida para a paz na Ucrânia

Xi Jinping e Vladimir Putin
Xi Jinping e Vladimir Putin
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Xi Jinping e Vladimir Putin assinaram uma série de documentos que tornam ainda mais robusta a “cooperação estratégica” entre a China e a Rússia. Para o Presidente russo, as conversas foram “construtivas”, num momento em que os dois países estão cada vez mais próximos. Xi Jinping garantiu ter uma posição “imparcial” sobre a Guerra na Ucrânia; já o líder russo assevera que a proposta de Pequim para a paz tem muitas semelhanças com os critérios russos para um acordo

Xi Jinping e Vladimir Putin encontraram-se mais de 40 vezes nos últimos anos e já se referem um ao outro como “querido amigo”. Nesta terça-feira, no Kremlin, os dois líderes reforçaram os laços e assinaram documentos que formalizam o apoio mútuo. Na perspetiva de Xi Jinping, a China e a Rússia devem “trabalhar mais estreitamente para promover uma cooperação prática” durante as negociações formais para a paz. No segundo dia da sua visita de Estado a Moscovo, o líder chinês quis frisar que já há resultados visíveis da cooperação iniciada há vários anos, e Putin retribuiu agarrando a oportunidade: “Moscovo está pronta para ajudar as empresas chinesas a substituir as ocidentais que deixaram a Rússia por causa do conflito na Ucrânia.”

Um dos assuntos que marcaram o encontro dos dois líderes foi a proposta do gasoduto Power of Siberia 2, que serviria para enviar gás russo para a China, via Mongólia, de acordo com Putin. “Estou convencido de que a nossa cooperação multifacetada continuará a desenvolver-se para o bem das populações de ambos os países”, declarou Vladimir Putin ao “velho” amigo.

Hua Chunying, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, confirmou, porém, o conteúdo mais esperado das conversações entre os dois Presidentes: a “crise na Ucrânia”, para a qual, concordaram, a solução será as negociações de paz. Hua Chunying garantiu que os dois chefes de Estado acreditam que os princípios da Carta das Nações Unidas e do direito internacional devem ser respeitados.

A Rússia recebeu com satisfação, aliás, a posição “objetiva e imparcial” da China sobre a guerra na Ucrânia, frisando que os dois Estados se opõem à interferência de outros países no sentido de colherem vantagens militares ou políticas do conflito.

Praticamente um “pária” internacional, depois de ter sido visado por um mandado de captura internacional (que o coloca em risco de ser detido em 123 países), Putin mostrou estar cada vez mais confortável ao lado do líder chinês. Na perspetiva do Presidente russo, os documentos assinados pelas duas potências “refletem totalmente a natureza das relações entre a Rússia e a China”, que estarão no “seu ponto mais alto” ao longo de “ toda a História dos dois países”. Em tom de promessa ou ameaça, Putin também sublinhou que a Rússia e a China estão “amarradas”, desfrutando de “boas relações de vizinhança” e de um “contacto constante”. E será essa relação tão próxima que permitirá aos dois aliados encontrar soluções mesmo para as situações mais complexas.

Vladimir Putin, o homem que Xi Jinping chegou em tempos a descrever como o “melhor e mais íntimo amigo”, também viu muitos dos pontos para a paz do plano chinês coincidirem “com o ponto de vista russo”. Os dois terão passado “muito tempo” a discutir o plano de Pequim para encerrar a huerra na Ucrânia. “Acreditamos que muitos pontos do plano de paz chinês coincidem com o ponto de vista da Federação Russa, e muitos desses pontos podem ser adotados no Ocidente e em Kiev”, sistematizou o líder russo.

China “do lado certo da História”

O Presidente chinês acredita que as relações entre Pequim e Moscovo são "cruciais para a ordem mundial" e para o futuro da Humanidade. Segundo Xi, a China está “do lado certo da História”, uma teoria endossada por Putin, que reconheceu que a proposta chinesa para a paz pode fixar as bases para o acordo com a Ucrânia, assim que o Ocidente esteja preparado. Mas Xi Jinping não quis irritar demasiado os parceiros europeus, e assegurou, depois das conversas “amigáveis” com Putin, que a China é “imparcial” no que diz respeito à Guerra na Ucrânia, apoiando a paz e o diálogo. A imprensa estatal chinesa veiculou que o lado russo reafirmou o compromisso de retomar as negociações de paz o mais rapidamente possível.

Jens Stoltenberg já tinha alertado para as relações perigosas entre os dois Estados: o secretário-geral da NATO afirma haver “sinais” de que Moscovo pediu armas letais a Pequim. A NATO continua a emitir avisos à China para que não apoie a ofensiva russa. “Não temos qualquer prova de que a China está a entregar armas letais à Rússia, mas vimos alguns sinais de que isso foi pedido pela Rússia e de que esse assunto foi considerado pelas autoridades chinesas”, disse Stoltenberg.

O "POLITICO" conduziu uma investigação que revela que alguns componentes do equipamento militar russo têm sido fornecidos por empresas chinesas.

E a relação Rússia-China pode ver novos desenvolvimentos muito em breve. De acordo com o conselheiro de política externa do Kremlin, Yury Ushakov, Vladimir Putin poderá visitar o território chinês ainda em 2023. Na segunda-feira, Xi Jinping convidou o líder russo para uma visita ao país.

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