Guerra na Ucrânia

A fuga de Marina “guiada pelas estrelas”: jornalista que protestou em direto contra a guerra lembra como escapou da Rússia

A fuga de Marina “guiada pelas estrelas”: jornalista que protestou em direto contra a guerra lembra como escapou da Rússia
JOEL SAGET / Getty Images

Marina Ovsyannikova, a jornalista que durante um noticiário russo protestou contra a guerra, conseguiu fugir com a filha para o Ocidente. Em Paris, contou como escapou da prisão domiciliária, mas o medo não ficou para trás. “Ainda receio pela minha vida"

Marina Ovsyannikova deixou de ser apenas um desconhecido nome complicado de pronunciar e passou a ser um símbolo contra a guerra na Ucrânia – ou “operação militar especial”, como lhe chama o Kremlin. A jornalista russa tornou-se célebre quando invadiu, em direto, o noticiário de um canal estatal, exibindo um cartaz onde se lia: “Não acredite na propaganda, eles estão a mentir. Russos contra a guerra”.

O gesto não passou impune e Marina foi colocada em prisão domiciliária, com uma pulseira eletrónica, mas numa noite de outubro, uma semana antes de ser julgada por difundir desinformação, conseguiu fugir de casa, acompanhada pela filha, dando início a uma longa e arriscada fuga.

A arriscada odisseia foi agora narrada pela própria, em Paris, onde deu uma conferência de imprensa. “Sabia que não iam procurar-nos durante o fim de semana. Tínhamos dois dias para fugir da Rússia e correu tudo bem”, contou a jornalista de 44 anos.

Sem revelar o percurso que fez, Marina Ovsyannikova e a filha tiveram de trocar de carro sete vezes. “Antes de chegar à fronteira, o nosso último carro ficou preso na lama”, relatou.

E, naquela altura de desespero, olhar para o céu foi a salvação. “O nosso guia estava connosco, mas não havia rede no telemóvel, por estarmos numa zona remota, e ele teve de se guiar pelas estrelas”, recorda a dissidente.

Wikipédia

Marina e a filha conseguiram finalmente escapar do território russo, mas a jornalista ainda hoje não se sente segura. “É óbvio que ainda receio pela minha vida”, afirma.

“Os meus amigos ligam-me e perguntam-me em tom de piada: ‘O que preferes? Morrer com veneno, com polónio ou num acidente?’”, contou Marina durante a conferência de imprensa.

“O povo [russo] vive nesta bolha de propaganda, mas a elite dominante - aqueles que perderam os seus jatos privados e os seus iates - compreende tudo”, aponta Marina Ovsyannikova.

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