A primeira-ministra da Moldávia demitiu-se esta sexta-feira, provocando a queda do Governo. Natalia Gavrilita justifica a decisão com as várias crises causadas pela invasão russa da Ucrânia.
Em conferência de imprensa, a governante liberal afirmou ter “chegado a hora de anunciar a renúncia”. Acrescenta que ninguém esperava que o seu Executivo, eleito no verão de 2021, “tivesse de administrar tantas crises causadas pela agressão russa na Ucrânia”.
A gestão da demissionária foi marcada por problemas, incluindo uma crise energética aguda, o disparo da inflação e vários incidentes, como mísseis a atravessar o seu espaço aéreo. Cabe à Presidente, Maia Sandu, nomear um novo Executivo, o qual terá de ser aprovado pelo Parlamento.
A gota que fez transbordar o copo
Esta sexta-feira de manhã, o exército ucraniano garantiu que dois mísseis de cruzeiro russos sobrevoaram o espaço aéreo da Roménia, país membro da NATO, e da Moldávia (que não integra a Aliança Atlântica), antes de entrarem na Ucrânia.
Segundo o chefe do Estado-Maior do exército ucraniano, Valery Zaluzhnyi, os projéteis foram “lançados do Mar Negro” e “atravessaram o espaço aéreo romeno” cerca das 00h30 (hora de Portugal Continental), antes de entrarem no espaço aéreo ucraniano.
A Roménia indicou que as informações do oficial ucraniano “não tinham sido confirmadas”, mas a Moldávia anunciou que um míssil entrara no seu espaço aéreo. O Governo convocou o embaixador de Moscovo em Chisinau, Oleg Vasnetsov, classificando a ação como “violação inaceitável”.
“A Rússia continua a guerra agressiva contra a Ucrânia”, sendo que “os ataques com mísseis contra o país vizinho afetam de forma direta e negativa a vida dos cidadãos moldavos”, referiu um comunicado publicado no portal da diplomacia moldava.
Zelensky expõe plano de Moscovo
Quinta-feira, a Moldávia foi tema de debate na reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas, na presença do Presidente ucraniano. Volodymyr Zelensky disse ter intercetado recentemente um plano dos serviços secretos russos para destruir a Moldávia, país vizinho da Ucrânia. Adiantou que já alertara Sandu.
“Quando recebi este documento avisei imediatamente a Moldávia sobre esta ameaça, para protegê-la. Acredito que todos fariam o mesmo. Não sei se Moscovo deu ordem para prosseguir com este plano, mas é muito semelhante àquele que quiseram aplicar na Ucrânia”, afirmou Zelensky.
Avançou que os documentos intercetados mostravam em detalhe “como, quando e onde” deveria acontecer o ataque. O objetivo era controlar a Moldávia.
Moldávia em aproximação à UE
A primeira-ministra moldava já tinha confrontado Moscovo nos últimos dias, depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros russo ter defendido que o Ocidente pretende transformar a ex-república soviética “na próxima Ucrânia”. Sergei Lavrov afirmou mesmo que havia planos para integrar o país na NATO ou fazê-lo absorver pela Roménia.
Confrontada com estas declarações, terça-feira, Gavrilita lamentou, em conjunto com o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, as afirmações do ministro russo. “As declarações feitas pelo ministro Lavrov são preocupantes e não têm em conta a soberania e independência da República da Moldávia.”
“Os cidadãos moldavos disseram nas urnas que orientação desejam para o nosso país, decidiram o nosso modelo de desenvolvimento e disseram que querem o caminho europeu. A sua vontade deve ser respeitada e devemos cumprir a sua vontade política”, afirmou, no final da reunião do Conselho de Associação UE-Moldávia.
Descrédito de Lavrov
“Tudo faremos para preservar paz e estabilidade no nosso país, e acreditamos que tais declarações são contrárias à lei internacional e ao direito da Moldávia à autodeterminação”, concluiu, sobre Lavrov. Borrell lamentou que o ministro russo, “que já foi um diplomata respeitado, prossiga este caminho que o desacredita intelectualmente”.
A reunião UE-Moldávia, terça-feira foi, a primeira desde que foi concedido ao país o estatuto oficial de candidato à União Europeia e desde que a Rússia iniciou a agressão militar à Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022.
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes