Guerra na Ucrânia

Como uma esmeralda com memórias de mar e amor pode ajudar a Ucrânia

Como uma esmeralda com memórias de mar e amor pode ajudar a Ucrânia
Sotheby's

‘Nasceu’ numa mina na Colômbia, naufragou em 1622, foi recuperada em 1985 e acabou em 1988 como anel de noivado. Mitzi Perdue usou a sua esmeralda todos os dias, mas vai leiloá-la, para financiar ajuda humanitária à Ucrânia

Foi a 4 de setembro de 1622, um dia de furacão, que o galeão espanhol Nuestra Señora de Atocha interrompeu a viagem ao largo da Flórida. Tinha partido de Havana (Cuba), ia para Sevilha (Espanha), carregado com um tesouro de 180 mil moedas, 24 toneladas de lingotes de prata da Bolívia, 125 barras de ouro em massa e 31 quilos de esmeraldas da Colômbia por lapidar. Nunca chegou ao destino, afundado pelo temporal. O Santa Margarita, que fazia a mesma rota, também acabou no fundo do mar, junto à ilha de Key West.

Mel Fisher, um caçador de tesouros e dono de uma escola de mergulho na Califórnia, andou mais de 15 anos, entre 1969 e 1985, obcecado por encontrar os destroços e o tesouro que ainda guardaria, avaliado em mais de 400 milhões de dólares (1,1 mil milhões a valores de hoje). E conseguiu.

A expedição foi na altura patrocinada por Frank Perdue, um dos maiores magnatas americanos, que fez fortuna com a criação de galinhas. Recebeu, por isso, uma parte do tesouro proporcional ao investimento. Doou a maioria das pedras preciosas e do ouro e prata ao Instituto Smithsonian e a uma universidade do Delaware, mas guardou para si um dobrão de ouro, que passou a usar ao pescoço, e uma esmeralda.

Pouco tempo depois, o empresário conheceria numa festa em Washington D. C. Mitzi, a mulher que se tornaria a sua terceira esposa. No encontro que se seguiu, Perdue ofereceu-lhe a esmeralda, já incrustada num anel. Casaram em 1988.

Frank Perdue e Mizi, com o seu anel no dedo
Mitzi Perdue

“É uma esmeralda de um verde forte, um verde puro, nem muito claro nem muito escuro”, avalia Alexander Eblen, um especialista do departamento de joalharia da Sotheby's de Nova Iorque, citado pelo New York Times. A joia está atualmente nas mãos da leiloeira porque Mitzi vai vendê-la, depois de 34 anos na sua posse e 17 no seu dedo. Usou o anel de esmeralda todos os dias até à morte do marido, em 2005, altura em que optou por guardá-lo em segurança. Foi preciso a Rússia invadir a Ucrânia para a filantropa retirar a peça histórica do seu confinamento.

Há cerca de três meses, aos 81 anos, Mitzi esteve em Kiev para conhecer de perto o drama do tráfico de seres humanos alimentado pela guerra. É um tema que lhe é caro e do qual se tornou ativista. No primeiro dia na capital ucraniana, um alerta de bombardeamento obrigou-a a refugiar-se num bunker. Foi então que a viúva Perdue decidiu que a joia, avaliada entre 47 e 67 mil euros, iria iniciar um novo capítulo na sua história de mais de quatro séculos: financiar o apoio humanitário ao povo ucraniano.

O leilão está marcado para a próxima quarta-feira, dia 7 de dezembro. No panfleto criado para o efeito, Mitzi deixa uma mensagem para os potenciais compradores: “Se comprar esta esmeralda, saiba que terá a minha eterna gratidão, que estará a ajudar inúmeras pessoas que nunca conhecerá e que que possuirá um artefato histórico de valor inestimável. O meu sonho é poder entregá-lo pessoalmente”.

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