Guerra na Ucrânia

90 anos do Holodomor: países classificam ato como genocídio e prestam apoio à Ucrânia

Monumento às vítimas do Holodomor
Monumento às vítimas do Holodomor
VALENTYN OGIRENKO/Reuters

Nos 90 anos do Holodomor, vários líderes políticos de vários países classificaram o ato como genocídio (algo que Portugal fez em 2017) e prestaram mais apoio ao país que foi invadido pelos russos em fevereiro

No dia que se marcam os 90 anos do Holodomor, líderes políticos de vários países estão a classificar como genocídio este período que matou à fome milhões de pessoas na Ucrânia entre 1932 e 1933, com Estaline no poder.

O flagelo histórico cometido pelo regime estalinista na Ucrânia soviética, também designado como "A Grande Fome" ou "A Fome-Terror", fez, entre 1932 e 1933, cerca de 3,5 milhões de vítimas ucranianas — aliás Holodomor significa em ucraniano isso mesmo: exterminação pela fome.

A Roménia, a Irlanda, a Alemanha e o Vaticano foram, até agora, alguns dos países que atribuíram ao crime da era soviética a classificação que a Ucrânia vinha pedindo há anos e que adquiriu uma nova atualidade desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, a 24 de fevereiro deste ano, e durante alguns meses bloqueou a saída de cargueiros com cereais dos portos ucranianos, fazendo temer uma crise alimentar mundial.

Na quarta-feira, o parlamento romeno aprovou um texto classificando o Holodomor como um "crime contra a Humanidade" e, na quinta-feira, foi a vez de o Senado irlandês aprovar uma resolução considerando-o um "genocídio do povo ucraniano".

No mesmo dia, também o Papa Francisco falou sobre o assunto no Vaticano, utilizando o termo "genocídio": “Rezamos pelas vítimas desse genocídio e por tantos ucranianos — crianças, mulheres, pessoas idosas e bebés — que agora sofrem o martírio da agressão.”

Na sexta-feira, foi a vez de o parlamento alemão anunciar que na próxima semana vai definir como "genocídio" essa "Fome-Terror" imposta há 90 anos ao povo ucraniano pelo regime de Estaline.

Será com uma unanimidade rara que a coligação no poder, formada pelo Partido Social-Democrata (SPD), pelos Verdes e os liberais do FDP, à qual se juntará a oposição conservadora do bloco CDU-CSU, formado pela União Democrata-Cristã e a União Social-Cristã bávara, vai aprovar na próxima quarta-feira, 30 de novembro, uma resolução nesse sentido no Bundestag, a câmara baixa do parlamento alemão.

"Todos os grupos parlamentares democráticos alemães chegaram a acordo sobre uma importante moção conjunta sobre o Holodomor", reagiu de imediato na rede social Twitter o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, expressando a sua "gratidão por ver homenageado o povo ucraniano".

Portugal já tinha classificado como genocídio em 2017 e Ucrânia agradece

O Governo ucraniano agradeceu, numa nota enviada à agência Lusa, a solidariedade de Portugal por ter, em 2017, aprovado uma resolução a classificar como genocídio o Holodomor.

"Em março de 2017, o parlamento da República Portuguesa aprovou a resolução n.º 233/XIII [intitulada] 'Reconhecimento do Holodomor — a Grande Fome de 1932-1933 na Ucrânia', que classifica o Holodomor de 1932-1933 como genocídio do povo ucraniano", indicou uma fonte oficial do MNE.

A mensagem do Governo de Kiev nomeia mesmo alguns municípios portugueses que se aliaram à iniciativa, como "Grândola, Alcanena, Lagos, Águeda, Abrantes e Braga", e que "reconheceram o facto do genocídio".

"Muito agradecemos e respeitamos a solidariedade do parlamento e dos portugueses com os ucranianos, que sofreram uma das maiores tragédias nacionais da sua história entre 1932 e 1933", lê-se no texto.

Na mesma nota, o MNE da Ucrânia faz ainda outro agradecimento ao país, sobre a ajuda que lhe tem sido prestada desde que a Rússia o invadiu, a 24 de fevereiro deste ano, fazendo um número ainda indeterminado de mortos e feridos e milhões de deslocados internos e refugiados noutros países europeus.

"Estamos gratos a Portugal pela solidariedade com o povo ucraniano na defesa da sua independência e integridade territorial e pela partilha das legítimas aspirações do povo ucraniano a fazer parte de uma Europa unida, no âmbito dos valores e princípios da defesa da democracia, da paz e da prosperidade dos povos", conclui o texto.

Países prestam apoio

Não é só a classificação como genocídio que conta. A situação atual está longe de ser a ideal para a Ucrânia — e muitos já a comparam ao tempo vivido na altura — e alguns países europeus vão dar ainda mais apoio. Segundo a comunicação social da Polónia e da Lituânia, os primeiros-ministros desses países, Mateusz Morawiecki e Ingrida Simonyte, que apoiam fortemente Kiev, estão de passagem na Ucrânia para negociações sobre uma possível nova onda de imigração da Ucrânia para a Europa neste inverno.

Aliás, o primeiro-ministro polaco é um dos que comparou a atual guerra ao Holomodor. Mateusz Morawiecki culpou Moscovo de provocar, como há quase um século, uma "fome artificial" como resultado da invasão. "Reunimo-nos na década de 1990, no aniversário do Holodomor, que foi criado artificialmente pelo regime comunista russo. Hoje, estamos prestes a assistir a outra fome artificial causada pela Rússia nos países da África e do sudeste asiático", alertou.

O primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, também está de visita a Kiev, a primeira desde o início da invasão russa. Segundo a agência belga, o governante prevê disponibilizar um apoio financeiro adicional de 37,4 milhões de euros para a Ucrânia.

Também o chanceler alemão, Olaf Scholz, anunciou num vídeo uma ajuda adicional de 10 milhões de euros para apoiar as exportações de cereais da Ucrânia, impactadas pela guerra.

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