Guerra na Ucrânia

“Proteger os céus da Ucrânia significa proteger a NATO”: o que já se sabe sobre o caso das explosões na Polónia

“Proteger os céus da Ucrânia significa proteger a NATO”: o que já se sabe sobre o caso das explosões na Polónia
CLODAGH KILCOYNE/Reuters

Dos Bálticos chegam pedidos para que os membros da Aliança Atlântica protejam os céus da Ucrânia, um pedido que, como seria de esperar, encontrou eco imediato em Kiev. Porém, ainda não há qualquer confirmação sobre o que terá provocado a explosão na vila polaca de Przewodow, perto da fronteira com a Ucrânia - se mísseis russos, defesas antiaéreas ucranianas ou qualquer outra coisa. Morreram duas pessoas. A Rússia nega qualquer ataque, Zelensky pede que os atos da Rússia não passem impunes

O Presidente da Ucrânia já falou sobre o caso dos mísseis que, segundo Kiev, são de origem russa e atingiram território polaco, provocando a morte a duas pessoas.

Volodymyr Zelensky começou por dizer que o que se passou esta terça-feira é algo que os ucranianos já haviam avisado “há muito tempo” que podia acontecer. “O terror não se limita às nossas fronteiras nacionais. Já se espalhou para o território da Moldávia. E hoje, mísseis russos atingiram a Polónia, o território do nosso país amigo. Pessoas morreram”.

A explosão aconteceu na vila Przewodow, no leste da Polónia, a cerca de seis quilómetros da fronteira com a Ucrânia. "Recebemos um relato de uma explosão. De facto, à chegada, pudemos confirmar que havia dois mortos no local”, disse o porta-voz dos bombeiros de Hrubieszów, distrito ao qual pertence Przewodow, citado pelo meio de comunicação polaco Onet.

A reação dos membros da NATO foi quase imediata e o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, convocou uma reunião de emergência do comité de Segurança Nacional e Assuntos de Defesa, segundo escreveu um dos porta-vozes do Governo, Piotr Muller, no Twitter.

O gabinete do primeiro-ministro acrescentou pouco depois que a reunião foi convocada na sequência desta explosão, uma “situação de crise”, sem nunca atribuir diretamente a culpa pelo incidente a mísseis lançados pela Rússia. O mesmo porta-voz chamou a atenção para a propagação de notícias não confirmadas e assegurou que o público iria receber mais detalhes em breve.

O ministério de Defesa da Rússia já veio negar que os seus mísseis tenham cruzado a fronteira da Ucrânia com a Polónia. “As declarações dos meios de comunicação e das autoridades polacas sobre a suposta queda de mísseis russos na área de Przewodow são uma provocação deliberada para agravar a situação. Nenhum ataque a alvos perto da fronteira ucraniano-polaca foi feito por mísseis russos. Os destroços publicados pelos meios de comunicação polacos da cena na vila de Przewodow não têm nada a ver com armas russas”, escreve “The Guardian”.

Zelensky, no entanto, não está convencido e dedicou boa parte do seu discurso ao perigo que a Rússia representa, na sua opinião, para todos os países europeus. “Quantas vezes a Ucrânia disse que o terrorismo não ficaria limitado ao nosso país? Polónia, Estados bálticos, é apenas uma questão de tempo para que o terror russo chegue mais longe. Quanto mais a Rússia sentir impunidade, mais ameaças haverá, a todos os que se encontrem no raio de alcance dos mísseis russos”.

Um dos conselheiros de Zelensky, Mykhailo Podolyak, veio apoiar as declarações do Presidente, através de uma publicação no Twitter onde nega que a queda de mísseis tenha sido um acidente. “Os ataques a território polaco não foram por acaso - são um plano deliberado que serve para a Rússia dizer ‘olá’ enquanto disfarça tudo como ‘um erro’. É isto que acontece quando o mal fica sem castigo e os políticos tentam enveredar por uma ‘pacificação’ com o agressor. O regime terrorista russo tem de ser parado. Os meus sentimentos aos familiares dos mortos”.

Nem a Polónia nem os Estados Unidos confirmaram ainda que se trata de um ataque deliberado da Rússia ou que os destroços encontrados sejam parte de projéteis ou mísseis russos.

À CNN, uma fonte da Casa Branca disse que não tem confirmação de qualquer ataque de artilharia ou outro na Polónia, acrescentando que as autoridades dos EUA estão ainda a tentar averiguar o que realmente aconteceu. Esta terça-feira a Rússia voltou a atingir várias partes do território ucraniano com dezenas de bombardeamentos, alguns dos quais sobre a região de Lviv, que faz fronteira com a Polónia.

A porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson, também reforçou a ideia, através de uma publicação no Twitter, de que ainda não há certezas sobre a causa da explosão. “Vimos esses relatos que chegam da Polónia e estamos a trabalhar com o Governo polaco para recolher mais informações. Não podemos confirmar as notícias ou qualquer um dos detalhes neste momento. Vamos determinar o que aconteceu e, depois, quais os próximos passos apropriados".

As manifestações de apoio à Polónia têm-se sucedido, mas com muito poucas acusações diretas à Rússia, até ao momento. O ministro da Defesa da Letónia, Artis Pabriks, talvez tenha sido o governante a ir mais longe, ao sugerir que o artigo 4º da NATO entrasse em vigor, e que a defesa do “espaço aéreo ucraniano" deveria ser implementada.

O Artigo 4.º do Tratado do Atlântico Norte diz o seguinte: "As Partes consultar-se-ão sempre que, na opinião de qualquer delas, estiver ameaçada a integridade territorial, a independência política ou a segurança de uma das Partes”.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, informou no Twitter que já falou com o Presidente polaco, Andrzej Duda, e que os “aliados da NATO estão a observar a situação e em contacto próximo”. É “importante” que “todos os factos sejam esclarecidos”, acrescentou.

As imagens que foram publicadas nos meios polacos - desde então, segundo o Gazeta Wyborcza, foi imposto um bloqueio às informações que as autoridades podem passar aos jornalistas - mostram um prédio de tijolo destruído e um veículo agrícola que parece ter capotado. A explosão atingiu, segundo as informações do mesmo jornal, num complexo agrícola.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, pediu já uma reunião da NATO e também que sejam enviados meios aéreos de combate para o seu país, algo que os parceiros da Aliança Atlântica sempre se recusaram a fazer, já que a regra não-escrita continua a ser a de que apenas é possível fornecer à Ucrânia material que sirva para repelir ataques russos - e não o chamado arsenal “ofensivo”.

“A Ucrânia reafirma a sua total solidariedade com a Polónia e está pronta a enviar todo o apoio que for necessário. Uma resposta coletiva à Rússia tem de ser dura mas com princípios. Entre as ações imediatas: uma cimeira da NATO com a participação da Ucrânia para desenhar um caminho de ação que force a Rússia a mudar a estratégia de escalada, envio de meios aéreos modernos como F-15 e F-16, tal como sistemas de defesa antiaérea, para podermos interceptar mísseis russos. Hoje, proteger os céus da Ucrânia significa proteger a NATO”, escreveu no Twitter.

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