Guerra na Ucrânia

“Fórmula ucraniana para a paz”: Zelensky detalha dez pontos essenciais para negociação da paz

Volodymyr Zelensky durante visita à recém-recapturada Kherson, esta segunda-feira
Volodymyr Zelensky durante visita à recém-recapturada Kherson, esta segunda-feira
OLEG PETRASYUK

Presidente ucraniano estabeleceu termos para entrar em conversas de paz. Kremlin considera-os “irreais” e acusa Ucrânia de não querer negociar

Depois da intervenção junto dos líderes do G20, o Presidente da Ucrânia publicou um comunicado no Telegram onde detalha os termos que o país considera essenciais às negociações da paz.

“Não vale a pena oferecer à Ucrânia compromissos sem consciência, soberania, território e independência”, escreve. E acrescenta: “se a Rússia diz que supostamente quer o fim desta guerra, deixem-nos prová-lo com ações.”

O objetivo é Não permitir “que a Rússia espere, reforce as suas forças e inicie uma nova série de terror e desestabilização global”. “Não haverá Minsk-3, porque a Rússia violará imediatamente após o acordo”, explica.

A expressão é uma referência ao Acordos de Minsk, uma série de tratados assinados em 2014 e 2015, que visavam a paz no Donbas. O primeiro falhou o objetivo de cessar as hostilidades na região. O segundo (uma versão revista e atualizada do primeiro, conhecida por Minsk-II) foi declarado inválido por Vladimir Putin a 22 de fevereiro, após o Presidente russo reconhecer a independência das autoproclamadas Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk. A Rússia culpou a Ucrânia pelo fracasso dos tratados antes de a invadir, a 24 de fevereiro de 2022.

Em alternativa, a Ucrânia avança com os termos que considera essenciais à paz.

"Existe uma fórmula ucraniana para a paz. Paz para a Ucrânia, a Europa e o mundo. E há um conjunto de soluções que podem ser implementadas para realmente garantir a paz. Tendo participado da cúpula do G20, apresentei propostas para tais soluções – específicas e honestas. A Ucrânia oferece aos principais estados do mundo (a opção de) serem cocriadores da paz juntamente connosco”.

Segundo Volodymyr Zelensky, estes são os dez pontos da “fórmula ucraniana para a paz”:

  1. Segurança de radiação e nuclear;
  2. Segurança alimentar;
  3. Segurança energética;
  4. Libertação de todos os prisioneiros e deportados;
  5. Implementação da carta da ONU e restauração da integridade territorial da Ucrânia e da ordem mundial;
  6. Retirada das tropas russas e cessação das hostilidades;
  7. Restauração da justiça;
  8. Antiecocídio;
  9. Prevenção de escalada;
  10. Estabelecer o fim da guerra.

A “fórmula” é divulgada um dia após o secretário-geral da NATO ter afirmado que cabe à Ucrânia definir os termos necessários para entrar nas negociações para o fim do conflito. O papel da NATO será apoiar Kiev, defendeu Jens Stoltenberg esta segunda-feira.

Rússia considera termos “irrealistas”

O Kremlin reagiu rapidamente ao comunicado do Presidente da Ucrânia.

Dmitry Peskov afirmou que o comunicado do Presidente ucraniano demonstra que o governo de Kiev não está interessado em participar em negociação de paz com Moscovo. O porta-voz do Kremlin é citado pela agência RIA Novosti.

Pouco depois, a partir de Bali, onde está para a cimeira do G20, Sergey Lavrov afirmou que os termos expressos por Volodymyr Zelensky são “irrealistas”. Fazendo eco do que já tinha sido dito por Dmitry Peskov, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo acusou a Ucrânia de “não estar disposta a ouvir conselhos”.

"Estou convencido de que chegou o momento, que a guerra destrutiva da Rússia deve e pode ser travada"

O comunicado de Zelensky surgiu no seguimento da sua intervenção junto dos líderes dos países do G20. Durante o seu discurso, o Presidente da Ucrânia defendeu que “é tempo” de pôr fim ao conflito. "Estou convencido de que chegou o momento, que a guerra destrutiva da Rússia deve e pode ser travada", afirmou, sendo citado pela AFP.

Volodymyr Zelensky denunciou as “ameaças loucas da Rússia de utilizar armas nucleares” e argumentou que não deve haver “nenhuma desculpa para a chantagem nuclear”.

Sobre o acordo para a exportação dos cereais ucranianos via Mar Negro (que expira na sexta-feira) defendeu que deve ser prorrogado indefinidamente.

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