Guerra na Ucrânia

Gás, central nuclear e acordo de cereais: Erdogan fortalece parceria com Moscovo

Vladimir Putin e Erdogan, Presidente turco,
Vladimir Putin e Erdogan, Presidente turco,
Anadolu Agency/Getty Images

Presidentes russo e turco não conversaram sobre a resolução do conflito na Ucrânia. Em vez disso, Putin propôs a Erdoğan criar um ‘hub’ de gás natural na Turquia para assegurar as exportações, o líder turco sugeriu que a Rússia construísse uma nova central nuclear em território turco e que se debatesse o prolongamento do acordo de cereais. A Turquia acentua um equilíbrio frágil entre a neutralidade e os crescentes laços com Moscovo

Na sua primeira intervenção na VI Conferência sobre Medidas de Interação e Construção de Confiança na Ásia (CICA em inglês), que decorre em Astana, no Cazaquistão, Vladimir Putin não fez referências à Ucrânia, mas apontou o dedo à NATO, referindo que as políticas da Aliança "falharam".

"Mais de 20 anos depois da presença [no Afeganistão], os EUA e a NATO continuam incapazes de resolver problemas associados a ameaças terroristas", disse Putin.

Referindo-se à guerra que decorre na Ucrânia, sublinhou que as ameaças de "fome" e “caos social” são "reais", especialmente nos países mais pobres. Devido ao conflito e ao aumento dos preços de alguns produtos, "há uma deterioração na qualidade de vida nos países desenvolvidos e em desenvolvimento".

"Há ameaças reais de fome e caos social generalizado", afirmou Putin, citado pela CNN, garantindo que a Rússia está a fazer tudo o que pode para fornecer produtos essenciais aos países “que deles necessitam”.

"Apelamos à eliminação de quaisquer barreiras artificiais e ilegítimas que dificultam a normalização das cadeias globais de abastecimento. Todos os desafios relacionados com a segurança alimentar devem ser rapidamente resolvidos."

Proposta de Putin: construir ‘hub’ de gás natural russo na Turquia

Durante as conversações com Erdoğan, o Presidente russo propôs construir um ‘hub’ de gás natural na Turquia, avançou a agência de notícias turca Anadolu. A ideia de um grande centro de gás na Turquia para abastecimento de outros países é justificada por Putin por o território turco ser “a rota mais confiável para as remessas seguirem atualmente, mesmo para a Europa”.

“Esse ‘hub’, que poderíamos criar juntos, seria uma plataforma, não só de abastecimento, mas também de determinação de preço, porque essa é uma questão muito importante: como tabelar os preços. Hoje, esses preços são altíssimos; poderíamos facilmente regular a um nível normal no mercado, sem quaisquer implicações políticas.”

Putin sugeriu, na quarta-feira, que a Rússia poderia criar um grande centro de gás na Turquia que redirecionasse as remessas da energia destinadas aos oleodutos submarinos Nord Stream que ficaram danificados, adiantou nessa circunstância a agência Reuters.

Na conversa entre os dois líderes que foi transmitida pelas televisões , Erdoğan não comentou a sugestão de Putin.

Propostas de Erdogan: nova central nuclear na Turquia e prolongamento do acordo dos cereais

Além da ideia do Presidente da Rússia, Putin e o seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdoğan, também discutiram a energia nuclear. O líder turco fez referência à construção russa da primeira central nuclear da Turquia, que Ancara espera inaugurar no próximo ano, detalhou a AFP.

De acordo com a agência de notícias, Erdoğan propôs que a Rússia construísse uma segunda central nuclear no norte da Turquia, num momento em que aproveitou para defender os crescentes laços comerciais de Ancara com Moscovo.

Os EUA e a UE têm pressionado a Turquia para cumprir as sanções que impuseram a Moscovo, mas Erdoğan recusou, referindo que a Turquia, membro da NATO, deveria ser um local neutro para possíveis negociações de tréguas. A Turquia também aprovou uma série de acordos que fizeram o valor das exportações para a Rússia mais do que duplicar nos últimos meses.

No mesmo sentido, o Presidente da Turquia disse, nesta quinta-feira, que o país deve trabalhar juntamente com Moscovo para prolongar e fortalecer um acordo alcançado em julho, que permite que os cereais partam dos portos ucranianos, através do Mar Negro, para o mercado internacional. O acordo tem fim marcado para meados de novembro, mas poderá ser renovado se a Rússia e a Ucrânia concordarem, seguindo o pedido que a própria ONU já fez.

Erdoğan defendeu que a Rússia e a Turquia podem determinar para que países em desenvolvimento os cereais e fertilizantes russos poderão ser exportados. Putin aproveitou para salientar que os países que receberão os bens alimentares ucranianos deverão ser gratos ao líder turco, pelo seu papel na mediação do acordo.

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