Guerra na Ucrânia

Rússia: petição de autarcas a pedir demissão de Putin já reuniu 35 assinaturas

Rússia: petição de autarcas a pedir demissão de Putin já reuniu 35 assinaturas
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Documento foi inicialmente assinado por 18 representantes políticos de Moscovo e São Petersburgo, mas número cresceu nas últimas horas. Na semana passada, deputados da cidade natal de Putin aprovaram uma resolução a pedir que o Presidente russo seja acusado de traição. Candidatos pró-Kremlin ganharam eleições regionais, mas processo eleitoral foi fraudulento, apontam organizações independentes

Pelo menos 35 autarcas das regiões de Moscovo e São Petersburgo já assinaram uma petição a pedir a demissão de Vladimir Putin devido à guerra na Ucrânia. A informação foi avançada por Ksenia Torstrem, uma deputada do município de Semyonovsky, em São Petersburgo, que assinou a petição.

“Nós, os deputados municipais da Rússia, acreditamos que as ações do presidente Vladimir Putin prejudicam o futuro da Rússia e dos seus cidadãos. Exigimos a renúncia de Vladimir Putin do cargo de Presidente da Federação Russa!”, pode ler-se no texto da petição, que está disponível online.

O documento, inicialmente assinado por 18 responsáveis políticos, começou a ser divulgado na semana passada. Outros políticos russos são incentivados a assinar. Segundo Ksenia Torstrem, já foram recebidas outras assinaturas que estão neste momento a ser verificadas.

A onda de contestação que culminou nesta petição vem da semana passada: Dmitry Palyuga, um deputado municipal em Smolninskoye (São Petersburgo) introduziu uma resolução que pedia ao parlamento russo (Duma) para acusar judicialmente Putin de traição devido à invasão da Ucrânia. A resolução foi aprovada pela maioria dos deputados municipais presentes.

Dmitry Palyuga foi detido pela polícia por suspeitas de estar a “desacreditar” as autoridades, juntamente com outros quatro deputados do distrito, mas foi libertado esta sexta-feira – embora, segundo o próprio, ainda possa pagar uma multa que terá de ser decidida pelo tribunal. Smolninskoye é a cidade natal de Vladimir Putin.

O documento surge no mesmo dia em que foram conhecidos os resultados das eleições regionais no país, vencidas na sua esmagadora maioria por candidatos do partido “Rússia Unida”, que lidera o Kremlin.

Segundo a comissão eleitoral russa, todas as 14 regiões do país foram vencidas por candidatos que apoiam Putin. Só na cidade de Moscovo, mais de 77% dos lugares foram ganhos por candidatos pró-Kremlin, apontou a agência estatal TASS.

Mas o processo eleitoral não foi justo nem democrático, sublinhou a “Golos”, uma organização independente de observação de eleições. Foram reportados dezenas de violações com boletins de votos, intimidação de cidadãos e observadores, compra de votos e violações nas contagens.

O acesso à comunicação social durante a campanha não foi igual para todos os candidatos, apontou ainda organização, que fala numa campanha e num ato eleitoral “não livre e sem igualdade”. “É impossível determinar a real vontade dos eleitores nestas condições”, afirmou a “Golos”. O “New York Times” lembra que as eleições foram realizadas ao longo de três dias, tornando-as mais vulneráveis a fraudes.

Alguns cidadãos russos aproveitaram o ato eleitoral para protestar contra o regime de Putin: “Rússia sem Putin” e “Pela Paz” foram algumas das mensagens escritas nos boletins de voto, de acordo com fotografias divulgadas na rede social Telegram.

Muitos dos políticos críticos do regime fugiram do país desde o início da guerra contra a Ucrânia. Outros têm sido detidos, ao abrigo das leis aprovadas pelo Kremlin nos últimos meses com o objetivo de proibir críticas às forças armadas russas, limitando ainda mais a liberdade de expressão no país. Segundo a organização de direitos humanos OVD-Info, desde que a guerra começou já foram realizadas mais de 16 mil detenções ao abrigo desta legislação.

Um exemplo recente é o de Yevgeny Roizman, conhecido crítico de Putin e ex-presidente da câmara de Ekaterinburgo, uma cidade nos Urais com mais de 1,5 milhões de habitantes. Depois de ter sido multado três vezes pela justiça russa, Roizman foi detido no final do mês passado, acusado de “desacreditar” as forças armadas do país. Se for condenado, enfrenta uma pena que pode ir até aos cinco anos de prisão.

Ramzan Kadyrov
Mikhail Svetlov - Getty Images

Este domingo, o líder da Chechênia (apontado pelo Kremlin e fervoroso apoiante de Putin) também deixou duras críticas à estratégia militar do ministério da Defesa na invasão da Ucrânia. “Eles cometeram erros e creio que vão retirar as ilações necessárias. Se hoje ou amanhã não forem feitas mudanças na estratégia, vou ser forçado a falar com a liderança do ministério da Defesa e do país para lhes explicar a verdadeira situação no terreno", disse no seu canal de Telegram Ramzan Kadyrov, numa altura em que a Ucrânia está a lançar uma contra-ofensiva para recuperar parte do território ocupado.

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