O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse hoje em Odessa, no sul da Ucrânia, que, além da libertação de cereais e fertilizantes produzidos neste país, é preciso permitir o acesso ao mercado global de alimentos russos fora de sanções.
Falando em conferência de imprensa após uma visita ao Porto de Odessa, Guterres afirmou que aquilo que se vê neste local é “apenas a parte visível da solução” para a crise alimentar e de preços, numa alusão à iniciativa de libertação de cereais retidos pela guerra na Ucrânia através do Mar Negro.
A outra parte é “desimpedir o acesso ao mercado global de alimentos e fertilizantes russos que não estejam sob sanções”, prosseguiu, apelando a todos os governos e setor privado para que contribuam para este objetivo.
“Sem fertilizantes em 2022, pode não haver comida suficiente em 2023”, declarou, acompanhado pelo ministro das Infraestruturas ucraniano, Olexander Kubrakov.
“O movimento de cereais não significa muito para os países que não os conseguem pagar"
O secretário-geral da ONU deslocou-se esta sexta-feira ao porto de Odessa para testemunhar a exportação de cereais. “Cada navio é também um recipiente de esperança”, disse António Guterres, frisando a importância do escoamento destes alimentos para os agricultores ucranianos mas também para a população e países mais vulneráveis do mundo.
“O movimento de cereais não significa muito para os países que não os conseguem pagar. Preços mais baixos no mercado global não significam muito se esses preços não se refletirem nos mercados de comida locais”, frisou.
De acordo com o secretário-geral das Nações Unidas, devido ao acordo para a retoma de exportação de cereais 25 navios partiram de Odessa e de outros portos ucranianos em menos de um mês, o que abrangeu cerca de 600 mil toneladas de produtos alimentares.
Guterres disse que era “emocionante” estar em Odessa mas expressou também tristeza perante os terminais “praticamente vazios” do porto. Nesse sentido, apelou a ajuda internacional, observando que há países sem capacidade financeira para a sua compra e que os países em desenvolvimento precisam de acesso a financiamento e alívio de dívidas. Reconhecendo que é legítimo aspirar a paz, Guterres frisou que esta deve ser em linha com a carta das Nações Unidas e com a lei internacional.
Ameaça nuclear
Em resposta aos jornalistas, Guterres reiterou ainda os termos da relação existente entre a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e a ONU. “A AIEA é uma agência autónoma que tem um mandato próprio e responde perante o seu conselho, composto por Estados membros. Cabe à agência definir que tipo de inspeções, quando, de que maneira. As Nações Unidas, ao nível do seu secretariado, apenas afirmaram e repito: nós temos na Ucrânia capacidade logística e capacidade de segurança para apoiar uma possível missão da AIEA desde Kiev até Zaporíjia”, reiterou o secretário-geral da ONU.
A ONU pediu anteriormente uma zona desmilitarizada em torno da central nuclear de Zaporíjia, uma proposta rejeitada pela Rússia. Algo inaceitável, disse na quinta-feira o porta-voz da diplomacia russa, Ivan Nechaev. Na perspectiva de Moscovo, a implementação de propostas de desmilitarização “tornará a central muito mais vulnerável”.
Por sua vez, os serviços de informações ucranianos acusaram esta sexta-feira a Rússia de estar a preparar um ataque "em grande escala" à central nuclear de Zaporíjia.
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