As Forças Armadas ucranianas (também) estão a violar as leis da guerra e a colocar civis em risco, conclui um relatório da Amnistia Internacional conhecido esta quinta-feira. Em pelo menos 19 ocasiões, as tropas de Kiev instalaram bases militares em zonas residenciais – incluindo em escolas e hospitais – nas regiões de Donetsk, Kharkiv e Mykolaiv. O objetivo era atacar as forças invasoras a partir dessas instalações, tornando os locais alvos militares para os russos.
As informações foram recolhidas pelos investigadores da Amnistia Internacional através de entrevistas com cidadãos locais que sobreviveram aos ataques russos. “Não percebo porque é que os nossos militares estão a disparar a partir de cidades e não dos campos”, apontou Mykola, residente num bairro em Lysychansk, no Donbas.
“Os militares ficaram numa casa próxima da minha e o meu filho levava-lhes comida frequentemente. Quando aconteceu o ataque, ele estava no jardim da nossa casa e foi morto de imediato”, contou a mãe do homem de 50 anos, residente numa vila próxima de Mykolaiv. “Não tomamos decisões pelas forças armadas, mas pagamos o preço”, acrescentou outro cidadão cuja casa foi parcialmente destruída no ataque.
Os investigadores encontraram provas de ataques lançados pela Ucrânia a partir de zonas repletas de civis. "Estar numa posição defensiva não isenta os militares ucranianos de respeitar a lei humanitária internacional”, afirmou Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional, em comunicado.
“Estas violações não justificam de maneira alguma os ataques indiscriminados da Rússia, que têm matado e ferido muitos civis”, contrapõe no entanto o relatório.
O Governo de Kiev já reagiu. Mykhailo Podolyak, conselheiro de Zelensky, acusou a Amnistia Internacional de contribuir para a campanha de desinformação e propaganda russa, com o objetivo de desacreditar o exército ucraniano. Dmytro Kuleba, ministro dos Negócios Estrangeiros, mostrou-se indignado com este relatório que considera “injusto”.
No entanto, nenhum dos governantes comentou os relatos concretos de cidadãos ouvidos no terreno, nem tão pouco as provas documentadas pelos investigadores da organização não governamental. O ministério da Defesa de Kiev foi confrontado com as conclusões do documento a 29 de julho (última quinta-feira), mas não deu qualquer resposta.
Todas as provas recolhidas no terreno serão agora enviadas para o Tribunal Penal Internacional (TIP), à semelhança do que tem acontecido nas investigações dos crimes de guerra russos.
Aliás, a Amnistia Internacional publicou em maio um relatório muito semelhante a este, mas focado nos crimes de guerra russos: “O padrão dos crimes cometidos pelas forças da Rússia que nós documentamos incluem ataques ilegais e a matança intencional de civis“, apontou na altura.