O 'Big Brother' está de olho, e Pedro Abrunhosa é apenas um ponto captado pelo imenso radar russo, que já se alastrou, maioritariamente pela Europa e pelos Estados Unidos. Das palavras às intromissões em atos eleitorais e alegados envenenamentos, a "proatividade russa" começou ainda antes da invasão da Ucrânia. Na Bulgária, na Lituânia, na Eslovénia, na Albânia, na Alemanha, no Reino Unido, na Grécia e em Itália, Moscovo já fez uso da sua retórica para tentar impor autoridade. O embaixador russo em Itália enviou um e-mail intimidatório aos deputados da Comissão de Negócios Estrangeiros e Defesa, afirmando que as sanções contra a Rússia “não ficarão sem resposta”. Na Grécia, a embaixada da Rússia chegou mesmo a ditar nas redes sociais o canal de televisão que os gregos deveriam ver se queriam receber informação “objetiva”, e, na Bulgária, a embaixadora russa acabou por ter de se desculpar perante o primeiro-ministro do país, após ter comparado a invasão da Ucrânia ao processo de libertação da Bulgária que ocorreu há 144 anos. Apesar de, como já elucidaram os serviços de informação britânicos e norte-americanos, ter sido diminuída a capacidade de espionagem russa e atenuada a capacidade de influência na política nacional, dada a expulsão de diplomatas e outros profissionais russos, a "teia" de recolha de dados ditos "de interesse" não foi totalmente interrompida.
Luísa Godinho, doutorada em Ciência Política pela Universidade de Genebra e professora associada na Universidade Autónoma de Lisboa, lembra que, por cá, a reação da embaixada russa às palavras antiguerra (e anti-Putin) proferidas por Pedro Abrunhosa durante um concerto em Águeda "insere-se nessa estratégia sistemática de afirmação e defesa da posição da Rússia face a atitudes críticas, chegando à intimidação dos envolvidos".
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