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Guerra na Ucrânia

Rússia negou ataque a civis em Vinnytsia. Eis 10 massacres e “desculpas” dadas por Moscovo que não resistem ao escrutínio

Os ataques russos a instalações civis são cada vez mais uma realidade a céu aberto
Os ataques russos a instalações civis são cada vez mais uma realidade a céu aberto
Anadolu Agency

Moscovo diz que o ataque a Vinnytsia foi direcionado a um alvo militar. Em vários casos de ataques a alvos civis as explicações do Kremlin e das autoridades militares russas passam sempre pela total rejeição das acusações, que poderiam constituir crimes de guerra e adensar o volume de processos penais em trânsito. Mas, por mais que a Rússia se mantenha firme na narrativa, as explicações não sobrevivem a um escrutínio mais rigoroso

Eis o último ato: o Ministério da Defesa da Rússia afirmou esta sexta-feira, sem fornecer nenhuma prova, que o ataque com mísseis desta quinta-feira, dia 14 de julho, em Vinnytsia foi direcionado a um alvo militar – alegadamente uma reunião do comando da força aérea ucraniana. No seu briefing operacional diário, a Rússia afirmou que os seus "mísseis marítimos de alta precisão Kalibr atingiram o prédio da guarnição de oficiais na cidade de Vinnytsia". A acrescentou que "no momento do ataque, uma reunião do comando da força aérea ucraniana com representantes de fornecedores estrangeiros de armas foi realizada nesta instalação militar", reunião essa alegadamente "sobre a transferência do próximo lote de aeronaves e armas para as forças armadas da Ucrânia, bem como para organizar a reparação da frota aérea ucraniana".

A Rússia alega que "os participantes da reunião foram destruídos" - sempre sem evidência concreta dessa alegação. Mas não refere nunca o que se sabe, por imagens recolhidas por várias fontes independentes: que mais de 70 pessoas permanecem no hospital após o ataque, que pelo menos 23 pessoas morreram, incluindo três crianças. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, chamou ao ataque russo em Vinnytsia “um ato aberto de terrorismo”.

Mas este é apenas mais um episódio de uma história que se tem repetido ao longo desta guerra russa em território ucraniano.

Poucos dias antes de Vinnytsia, a 9 de julho, os serviços de emergência ucranianos denunciaram um ataque ao complexo de apartamentos em Chasiv Yar, uma vila a cerca de 16 quilómetros da linha de frente da guerra. Pelo menos 30 pessoas morreram, depois de mísseis russos terem deixado o edifício residencial em escombros. Entre os destroços, as equipas de resgate locais continuam à procura de corpos ou de sobreviventes. A versão de Moscovo, porém, desconsidera a gravidade do ataque a uma zona habitada por civis. A Rússia rebateu prontamente: os prédios estariam a ser usados ​​por tropas ucranianas, adiantou a agência de notícias estatal russa TASS, citando um alto funcionário russo não identificado. Nenhum civil foi morto, referia ainda a tese russa, ignorando todas as imagens divulgadas mundo fora.

Mas 9 de julho não marcava uma estreia, por parte da Rússia. Como lembrou o jornal "The New York Times", desde o final de fevereiro, momento em que Moscovo começou a fazer cair sobre a Ucrânia mísseis e artilharia a uma escala que não era registada na Europa há décadas, as mortes de civis têm sido tão frequentes ​​quanto as desculpas russas que se seguem.

De filas para comprar pão a recreios de escolas, de blocos de apartamentos a teatros e hospitais, a Rússia descartou responsabilidades em todas as ocasiões em que atingiu alvos não militares. Em muitas delas, chegou mesmo a acusar a Ucrânia de atacar o seu próprio povo para mobilizar a opinião nacional e mundial contra Moscovo.

A Rússia tem alegado que visa apenas alvos de valor militar – embora alguns estivessem a centenas de quilómetros das linhas da frente – e, sempre que uma instalação civil é atingida, Moscovo socorre-se da narrativa oficial de que se trata de infraestrutura utilizada como posto de comando, abrigo para combatentes estrangeiros ou armazenamento de armas. O povo russo encontra, nos canais televisivos controlados pelo Estado e nas opiniões de comentadores maioritariamente pró-guerra, uma caixa de ressonância da versão do Kremlin.

No entanto, jornalistas, organizações independentes e autoridades ucranianas documentaram ataques russos a milhares de edifícios, infraestruturas e veículos de civis. Em outros casos, a Rússia usou armas desatualizadas que poderiam ser destinadas a instalações industriais, mas falharam o alvo, colocando civis em risco. Nas restantes ocasiões, as explicações oficiais russas simplesmente não resistiram ao escrutínio. Este é um resumo dos ataques de maior relevo, feitos contra civis na Ucrânia, e das 'desculpas' dadas pelo regime russo.

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