O Presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, e a primeira-ministra, Sanna Marin, disseram esta quinta-feira que são favoráveis à adesão do país à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), devendo a decisão ser formalmente anunciada no domingo. Trata-se de uma importante rutura da nação com a sua tradicional posição de neutralidade durante conflitos e de não envolvimento em alianças militares, e a tomada de decisão está a ser interpretada como um passo histórico.
A Rússia já tinha ameaçado que a decisão poderia vir a ter "efeitos políticos e militares" para a Suécia, que também manifestou interesse em entrar na aliança militar, e para a Finlândia, em caso de adesão à NATO.
A potencial entrada da Finlândia na NATO constitui a maior alteração na política de defesa e de segurança do país nórdico desde a II Guerra Mundial (1939-1945), quando travou duas guerras contra a União Soviética. Também não pode ser desconsiderado o facto de a Finlândia partilhar 1340 quilómetros de fronteira terrestre com a Rússia.
Rússia reage a "ameaça" com... ameaças
Dmitry Medvedev, ex-Presidente russo e aliado de longa data de Vladimir Putin, foi rápido a reagir esta manhã às notícias de que a Finlândia está a aproximar-se do passo de adesão à NATO. Na rede social Telegram, Medvedev escreveu que as ações dos países ocidentais estão a tornar mais provável o conflito direto entre a NATO e a Rússia e, por conseguinte, a colocar em cima da mesa a possibilidade de uma guerra nuclear.
"No contexto da guerra por procuração desencadeada pelos países ocidentais contra a Rússia, quero articular mais uma vez com muita clareza coisas que já são tão óbvias para todas as pessoas razoáveis. O fornecimento de armas pelos países da NATO à Ucrânia, o treino das suas tropas para usarem equipamentos ocidentais, o envio de mercenários e a condução de exercícios pelos países da Aliança perto das nossas fronteiras aumentam a probabilidade de um conflito direto e aberto entre a NATO e a Rússia, em vez desta 'guerra por procuração'. Esse conflito corre sempre o risco de se transformar numa verdadeira guerra nuclear. Esse será um cenário catastrófico para todos."
Dmitry Medvedev concluiu com um apelo ao Ocidente: "Não mintam a vocês mesmos e aos outros. Não se engasguem com a própria saliva nos paroxismos da russofobia!"
Mais tarde, também o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que já tinha referido que a decisão da Finlândia de se juntar à NATO era "definitivamente" uma ameaça para a Rússia, voltou a ser questionado sobre se este novo anúncio de Helsínquia representava uma ameaça clara. "Definitivamente. A expansão da NATO não torna o nosso continente mais estável e seguro. A Finlândia aderiu a medidas hostis contra a Rússia."
Questionado sobre qual seria a resposta de Moscovo, Dmitry Peskov afirmou que tudo dependeria de "como se desenrolará esse processo de expansão da NATO", e de "até que ponto a infraestrutura militar se irá aproximar" das fronteiras russas.
A ameaça velada da Rússia tem sido compreendida pelos países nórdicos, que resolveram não esperar mais para aderir à aliança da defesa. Elina Valtonen, parlamentar finlandesa e membro da oposição, referiu-se, nesta quinta-feira, à forma como a Finlândia encara a segurança, e reconheceu que há um perigo latente. "Sentimos uma ameaça da Rússia, não acho que essa ameaça tenha desaparecido completamente. A Finlândia nunca tomou a decisão de diminuir as forças e a defesa, sempre levámos a segurança muito a sério. Estamos muito focados em defender-nos. Mas é claro que gostaríamos de fazer isso juntamente com os nossos parceiros e aliados próximos no futuro. Partilhamos os mesmos valores, somos um país ocidental. A Finlândia é uma democracia estável há mais de cem anos, e este é o passo natural a ser dado."
Ucrânia apoia a "prontidão" finlandesa
O Presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, conversou com o Presidente da Ucrânia. Durante essa conversa, Volodymyr Zelensky manifestou o seu apoio aos passos da Finlândia em direção à NATO. Na publicação no Twitter do líder finlandês, pode ler-se: "Falei com o presidente Zelensky e reiterei o firme apoio da Finlândia à Ucrânia. Eu informei-o sobre os passos da Finlândia para a adesão à NATO e ele expressou o seu total apoio."
O Presidente da Ucrânia aproveitou também para elogiar publicamente a Finlândia pela sua "prontidão em candidatar-se à adesão à NATO". Volodymyr Zelensky fez referência à conversa que teve com o Presidente finlandês, Sauli Niinisto, em que foi também debatida "a integração europeia da Ucrânia".
Estónia, Dinamarca e Roménia: portas abertas para a Finlândia
Além da Ucrânia, vários outros países já expressaram o seu apoio à alteração da política de neutralidade que a Finlândia escolheu adotar durante durante anos.
A primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, declarou que o seu país apoia a rápida adesão da Finlândia à NATO. Na rede social Twitter, a governante escreveu: "História está a ser feita pelos nossos vizinhos do norte. Podem contar com o nosso total apoio. Apoiamos um processo de adesão rápido. Da nossa parte, tomaremos as medidas necessárias rapidamente."
A primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen afirmou também que a Dinamarca acolherá a Finlândia na NATO e trabalhará para processar a candidatura rapidamente. De acordo com Mette Frederiksen, esta decisão "fortalecerá a NATO e a segurança comum" e "a Dinamarca fará tudo para conseguir um processo de admissão rápido, após o pedido formal".
O Presidente da Roménia, Klaus Iohannis, foi outra das vozes que se mostraram favoráveis à decisão da Finlândia de aderir à NATO. No Twitter, Klaus Iohannis escreveu: "Congratulo-me com a declaração conjunta do Presidente da Finlândia Sauli Niinistö e da primeira-ministra Marin Sanna sobre a adesão da Finlândia à NATO. A Roménia é um forte promotor da política de 'portas abertas' da NATO e está pronta para apoiar a Finlândia no processo de adesão. Juntos somos mais fortes!"
Suécia vai levar decisão finlandesa em conta
A deputada sueca Annie Lööf reconheceu ter encarado o passo da Finlândia em direção à adesão à NATO, conhecido esta quinta-feira, como um apelo à ação também por parte da Suécia. Na rede social Twitter, Annie Lööf escreveu, em jeito de apelo: "Os olhos do mundo estão agora virados para a Suécia e Finlândia. A Suécia precisa de andar de mãos dadas com a Finlândia para reforçar a segurança na região nórdica e báltica."
Também a ministra dos Negócios Estrangeiros garantiu que a Suécia levará em conta a decisão da Finlândia, enquanto pondera se também se candidatará à adesão à NATO.
Segundo o jornal sueco "Expressen", a Suécia avançará com um pedido de adesão à NATO na segunda-feira. A publicação sueca detalha que o Governo vai realizar uma reunião extraordinária na segunda-feira para tomar a decisão formal sobre a candidatura. Imediatamente após a reunião, o pedido será apresentado, se não ocorrer nenhum imprevisto, revelaram as fontes ouvidas pelo "Expressen".
Finlândia dará à NATO "valor acrescentado"
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, no passado dia 24 de fevereiro, a Finlândia e a Suécia começaram a ponderar o abandono da neutralidade história e aderir formalmente à NATO.
Nesta quinta-feira, o Presidente e a primeira-ministra da Finlândia anunciaram o apoio formal à adesão à NATO. "Durante esta primavera, decorreu uma importante discussão sobre a possível adesão da Finlândia à NATO", disseram, em conferência de imprensa conjunta, o Presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, e a primeira-ministra Sanna Marin. "Foi necessário tempo para deixar o Parlamento e toda a sociedade estabelecerem posições sobre o assunto. Foi necessário tempo para estabelecer contactos internacionais estreitos com a NATO e seus países membros, bem como com a Suécia. Queríamos dar à discussão o espaço que era necessário."
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Finlândia, Pekka Haavisto, afirmou, no Parlamento Europeu, em Bruxelas, que Helsínquia dará “valor acrescentado” à NATO, cuja adesão foi defendida esta quinta-feira pelo Presidente e pela primeira-ministra do país escandinavo.
A Finlândia, segundo explicou Haavisto aos eurodeputados que integram a comissão, tem um exército com 280 mil forças e 900 mil reservistas que “reforçará a segurança e a estabilidade na região do mar Báltico e do norte da Europa”.
O pedido de adesão terá de ser ratificado pelos 30 países membros da Aliança Atlântica, incluindo Portugal.