Guerra na Ucrânia

Guerra na Ucrânia. A morte de um major-general russo expõe mais um problema para o Kremlin: as comunicações

8 março 2022 11:07

Vitaly Gerasimov, veterano de várias guerras travadas por Moscovo nos últimos anos e primeiro vice-comandante do 41.º exército russo, foi morto em combate esta segunda-feira. A notícia da sua morte foi dada através de um banal telemóvel, e por isso intercetada pelos serviços de inteligência da Ucrânia: as tropas russas têm um sistema seguro de comunicações novinho em folha – mas que não está a funcionar

8 março 2022 11:07

– Dima, consegues falar num canal seguro?

O [canal] seguro não funciona aqui, não conseguimos falar com ninguém. Onde é que estás?

(soldados russos ao telefone após um combate perto de Kharkiv, na Ucrânia)

As forças armadas ucranianas mataram esta segunda-feira o major-general russo Vitaly Gerasimov, chefe de gabinete e primeiro vice-comandante do 41.º exército do Distrito Militar Central da Rússia, nos arredores de Kharkiv, uma das cidades mais pressionadas pela ofensiva de Moscovo. A informação foi avançada pela agência de notícias ucraniana NEXTA e confirmada por fontes russas. 

Gerasimov era um respeitado veterano de guerra do exército russo, tendo tido um papel importante nos últimos conflitos militares em que a Rússia se envolveu: a segunda guerra da Tchechénia, a guerra na Síria e a anexação da Crimeia – tendo recebido uma medalha de honra do Kremlin por “capturar” esta última região em 2014.

Também por este “currículo”, a morte de Gerasimov abalou o exército russo: “Durante a chamada em que o oficial do FSB [Serviço Federal de Segurança russo] destacado para o 41.º exército reporta a morte do seu chefe, ele diz que todas as linhas de comunicação seguras foram perdidas”, conta Christo Grozev, diretor executivo do jornal de investigação Bellingcat.

Para comunicar a morte de Gerasimov, este oficial do FSB usou um telemóvel com um cartão SIM normal – sendo por isso facilmente intercetado pelos serviços secretos ucranianos.

O jornalista do Bellingcat identificou que do outro lado da linha estava Dmitry Shevchenko, um oficial sénior do FSB que se encontrava em Tula, cidade a quase 600 km de Kharkiv. Quando ouviu a notícia através de um telemóvel civil, Shevchenko fez uma “pausa longa” e disse um palavrão, detalha o jornalista. 

Inicialmente, o seu subordinado pergunta se podem falar através do “Era” – um sistema de comunicação militar criptografado introduzido pelo Kremlin no ano passado e que prometia funcionar “em quaisquer condições” de combate. 

Mas o “Era” não estava funcional, e a culpa é dos russos: durante os últimos dias, o exército russo destruiu várias torres de telecomunicações 3G em Kharkiv. Ora, o sistema Era precisa de precisa de rede 3G ou 4G para funcionar. “O exército russo está equipado com telemóveis seguros que não funcionam nas áreas onde o exército russo está a operar”, resumiu o jornalista Christo Grozev. 

Gerasimov é já o segundo general do 41.º exército russo a morrer durante a Guerra na Ucrânia: no início do mês, o próprio Kremlin confirmou a morte do braço direito de Gerasimov, o major general Andrei Sukhovetsky.

Ainda não há números confirmados sobre as baixas do exército russo até agora: para já, Moscovo admite a perda de cerca de 500 soldados em território ucraniano, mas o Governo ucraniano estima que já foram mortos em combate mais de dez mil soldados russos. 

Além das deficiências de comunicação, agora reveladas pela morte de Gerasimov, o exército russo tem-se confrontado nos últimos dias com problemas logísticos e motivacionais: muitos dos homens que estão a invadir a Ucrânia pensavam inicialmente que estavam a participar num exercício militar e têm pouca experiência de combate, têm apontado várias fontes internacionais.