Cinco meses depois das eleições legislativas, França volta a estar sem Governo. Numa comunicação ao país, Emmanuel Macron queixou-se, quinta-feira, de que “os partidos escolheram o caos — a única agenda que une as esquerdas e direita radicais”. O Presidente tem de nomear novo primeiro-ministro, após a demissão de Michel Barnier, cujo Executivo não resistiu a uma moção de censura apresentada pela Nova Frente Popular (NFP, plataforma de esquerda) e apoiada pelo Reagrupamento Nacional (RN, de extrema-direita).
O Presidente começou esta sexta-feira a ouvir os partidos, no Palácio do Eliseu, e os primeiros foram os socialistas, que estão na NFP com comunistas, ecologistas e o partido de esquerda radical França Insubmissa (LFI), de Jean-Luc Mélenchon. Segundo Olivier Faure, primeiro secretário do PS, “Macron não colocou condições prévias sobre nenhum assunto” e não pediu “de todo” ao PS para se separar da LFI. Apesar de ter sido o partido da NFP mais votado nas legislativas, trabalhar com a LFI é uma linha vermelha para os centristas e para a direita.
As eleições, em julho, foram convocadas antecipadamente por Macron depois do “crescimento dos nacionalistas” nas europeias, isto é, do RN, de Marine Le Pen e Jordan Bardella. Mas os resultados não deram a clareza que o chefe de Estado pretendia: a Assembleia Nacional ficou dividida em três blocos, nenhum com maioria. O bloco vencedor foi a NFP, seguido da coligação presidencial Juntos pela República (centro liberal) e do RN. Contudo, o partido de extrema-direita, isolado, é o mais representado no Parlamento.
Agora, o xadrez político pós-eleitoral voltou à estaca zero. Esquerda e direita têm de voltar a entender-se e Macron comprometeu-se a designar novo primeiro-ministro “nos próximos dias”, tarefa que lhe levou dois meses da primeira vez, quando acabou por escolher Barnier (do partido de centro-direita Os Republicanos), rejeitando assim a candidata da coligação de esquerda vencedora, Lucie Castets.
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