O Governo francês sofreu esta quinta-feira uma aguardada “pequena” remodelação. Nos últimos dias, os principais meios de comunicação franceses reportaram que o Presidente, Emmanuel Macron, quis que as alterações a introduzir doravante não fossem lidas como uma mudança de rumo governamental, na sequência dos violentos protestos que se seguiram, no mês passado, à morte de um rapaz de 17 anos pela polícia num subúrbio de Paris.
À frente do Executivo re-energizado a partir desta quinta-feira mantém-se a primeira-ministra Élisabeth Borne, tal como tinha sido confirmado na passada segunda-feira via sms do Eliseu dirigido aos órgãos de comunicação social. Porém, além deste anúncio, só ao início da tarde começaram a ser conhecidos os nomes dos novos governantes.
O ex-chefe de gabinete de Borne, Aurélien Rousseau, 47 anos, passa a liderar a pasta da Saúde, substituindo François Braun. Gabriel Attal, 34 anos, vai para a Educação Nacional, o ministério que recebe a maior fatia do orçamento do Estado, deixando a pasta de ministro delegado das Contas Públicas para substituir Pap Ndiaye. Thomas Cazenave toma o lugar de Attal como novo ministro das Contas Públicas. Aurore Bergé, 36 anos, presidente do grupo Renascença (de Macron) na Assembleia Nacional, vai para o Ministério das Solidariedades, até agora responsabilidade de Jean-Christophe Combe.
Phillipe Vigier, 65 anos, é nomeado ministro do Ultramar, rendendo Jean-François Carenco. Vigier é doutorado em Farmácia, biólogo de profissão, deputado desde 2007 e não tem experiência na área. Já o presidente da câmara de Dunkerque, Patrice Vergriete, especialista em urbanismo e ordenamento do território, foi nomeado ministro da Habitação. A marselhesa Sabrina Agresti-Roubauche, 46 anos, amiga do casal presidencial, subsituiu Olivier Klein como ministra da Cidade.
Marlène Schiappa deixa de ser secretária de Estado da Economia Social e Solidária, depois de ter feito parte do Governo ao longo de mais de seis anos. Segundo site do jornal “Le Figaro”, críticas fortes do Senado contribuíram para o afastamento de Schiappa, envolvida que esteve em polémicas em torno da gestão que fez dos Fundos Marianne.
Dificuldades entre o PR e a PM ficaram à vista
O arrastamento no tempo desta remodelação levou a que muito se escrevesse sobre o desentendimento entre o chefe de Estado e a chefe de Governo. Era público que Borne pretendia fazer uma alteração mais profunda, enquanto o Eliseu insistia oficialmente “não ser uma remodelação”, mas um simples “ajuste”, dependente também do artigo 8 da Constituição, o qual prevê que seja o Presidente a nomear os membros do Governo.
A primeira reunião de Conselho de Ministros do novo Executivo está agendada para a manhã de sexta-feira e será presidida por Macron, anuncia o Eliseu.
Num artigo de opinião lançado no início da manhã pelo jornal “Le Monde” lia-se que “a longa espera” ilumina os desacordos entre o Presidente e primeira-ministra, “suscita interrogações e irrita os ministros”. E a demora manteve-se depois de ter sido prometido o anúncio dos novos nomes e substituições no final da tarde de quarta-feira.
Macron tem conservado a maior discrição desde que os protestos tomaram as ruas do país com particular violência. Promete agora que falará antes de partir, dia 23, para um périplo pela Oceânia, onde visitará a Nova Caledónia (território francês), Vanuatu e Papua-Nova Guiné, depois do silêncio mantido nas comemorações do 14 de julho.
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