Com a solenidade própria dos grandes acontecimentos, foi apresentado no Museu Rainha Sofia de Madrid o acordo para a formação de um segundo Governo de coligação em Espanha, onde, à diferença de muitos outros países europeus, até 2019 não se tinha ensaiado esta fórmula de governação do país. Esta segunda edição de um Executivo partilhado é um passo importante para resolver a interinidade política que se vive em Espanha por causa dos resultados das eleições gerais antecipadas de 23 de julho, mas não garante em absoluto que se alterem as circunstâncias da presente situação: o aspirante a repetir o mandato como presidente do Executivo, Pedro Sánchez (Partido Socialista Operário Espanhol, PSOE, centro-esquerda), não conta ainda com o imprescindível apoio dos partidos independentistas da Catalunha para assegurar a sua investidura parlamentar.
Se em 2019 os subscritores do pacto de coligação foram o PSOE e o grupo populista de esquerda Unidas Podemos (UP), que tinha Pablo Iglesias como líder, nesta ocasião apareceram como signatários o mesmo Sánchez e Yolanda Díaz, a qual conseguiu compor um agrupamento de catorze partidos, o Somar, de muito variada proveniência territorial, unidos sob o chapéu-de-chuva comum de obedecerem a uma ideologia situada à esquerda do próprio partido socialista. Díaz, que herdou do próprio Iglesias a direção do UP quando o seu chefe natural decidiu abandonar o cargo de vice-presidente do Governo e seguidamente a política ativa, conseguiu acumular grande poder e muita influência perante o presidente do Governo. E também conseguiu ofuscar as ambições dos dirigentes do Podemos, que a contragosto se viram obrigados a unir-se ao Somar se não quisessem ser relegados para a insignificância ou, ainda pior, para o desaparecimento enquanto partido com influência.
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