Europa

ONG pedem investigação imparcial a naufrágio no Mediterrâneo após relatos divergentes

Sobreviventes do naufrágio abraçam-se no campo de Malakasa, na Grécia
Sobreviventes do naufrágio abraçam-se no campo de Malakasa, na Grécia
STELIOS MISINAS/REUTERS

Na noite de 13 para 14 de junho, um barco de pesca deteriorado e sobrelotado, com 750 pessoas a bordo, que tinha zarpado da Líbia, naufragou ao largo da costa de Pylos, na Grécia

Organizações de direitos humanos pediram esta quinta-feira uma “investigação eficaz, independente e imparcial” sobre o naufrágio de uma embarcação com migrantes que fez centenas de mortos em junho no mar Mediterrâneo, denunciando “relatos totalmente divergentes de sobreviventes e autoridades gregas”.

Na noite de 13 para 14 de junho, um barco de pesca deteriorado e sobrelotado, com 750 pessoas a bordo, que tinha zarpado da Líbia, naufragou ao largo da costa de Pylos, na Grécia.

As organizações não-governamentais (ONG) Amnistia Internacional (AI) e Human Rights Watch (HRW) destacaram, em comunicado divulgado esta quinta-feira, que relatos de vários dos 104 sobreviventes sugerem que a embarcação foi rebocada por um barco da guarda costeira grega, causando o naufrágio fatal, enquanto as autoridades gregas negaram veementemente essas alegações.

“As disparidades entre os relatos dos sobreviventes do naufrágio de Pylos e a versão das autoridades sobre os eventos são extremamente preocupantes”, alertou Judith Sunderland, diretora para a Europa e Ásia Central da Human Rights Watch.

“As autoridades gregas, com apoio e escrutínio da comunidade internacional, devem garantir que haja uma investigação transparente para fornecer verdade e justiça aos sobreviventes e famílias das vítimas, e responsabilizar os responsáveis”, destacou ainda.

Uma delegação destas duas ONG visitou a Grécia entre 4 e 13 de julho, como parte da investigação em andamento sobre as circunstâncias do naufrágio e as etapas para a responsabilização, realizando entrevistas a 19 sobreviventes do naufrágio, a quatro familiares dos desaparecidos e a ONG, agências e organizações da ONU e internacionais, assim como a representantes da Guarda Costeira e da Polícia grega.

Os sobreviventes entrevistados afirmaram “consistentemente que o navio da Guarda Costeira grega enviado para o local amarrou uma corda ao barco e começou a rebocá-lo, fazendo-o balançar e depois virar” e que “os passageiros pediram para serem resgatados”.

No encontro com a AI e HRW, altos funcionários da Guarda Costeira Helénica disseram que os passageiros “limitaram o seu pedido de assistência a comida e água e expressaram a sua intenção de seguir para Itália”.

Estes responsáveis acrescentaram que a tripulação da embarcação da Guarda Costeira aproximou-se do barco e utilizou cordas para abordar e avaliar se os passageiros queriam ajuda, mas que após as primeiras negociações, os passageiros tiraram a corda e o barco continuou a sua viagem.

As autoridades gregas abriram duas investigações criminais, uma direcionada aos alegados contrabandistas e outra às ações da guarda costeira, destacaram as ONG no comunicado.

“É fundamental que estas investigações cumpram os padrões internacionais de direitos humanos de imparcialidade, independência e eficácia”, alertaram.

De acordo com estas organizações, para aumentar a credibilidade das investigações estas devem estar sob a supervisão do Ministério Público do Supremo Tribunal Federal.

Para a AI e HRW, todos os envolvidos ou com conhecimento do incidente, incluindo a Guarda Costeira Helénica, a Agência Europeia de Guarda Costeira e de Fronteiras (Frontex), os capitães e tripulações dos dois navios mercantes e outros que participaram na operação de resgate após o naufrágio devem ser “convidados ou solicitados a testemunhar”.

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