Biden diz que errou ao falar em “colocar Trump no alvo”, mas culpa-o por atentado
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O atual chefe de Estado garantiu que não é ele que se envolve “nesta retórica”, referindo-se aos comentários anteriores de Trump sobre um “banho de sangue”, caso o republicano perdesse para Biden em novembro
O Presidente norte-americano Joe Biden revelou, na segunda-feira, que cometeu um erro ao dizer que queria “colocar Donald Trump num alvo”, durante uma conversa com doadores na semana passada, dias antes do ataque contra o republicano.
“Foi um erro usar a palavra”, referiu Biden numa entrevista à estação NBC, explicando que pretendia focar-se nas palavras de Trump.
“Como é que se fala da ameaça real à democracia, quando um presidente diz coisas como ele diz?”, acrescentou.
O atual chefe de Estado garantiu que não é ele que se envolve “nesta retórica”, referindo-se aos comentários anteriores de Trump sobre um “banho de sangue” caso o republicano perdesse para Biden em novembro.
As declarações de Biden ocorreram durante uma chamada privada com doadores na semana passada, enquanto o democrata luta para reforçar a sua candidatura em risco, junto dos principais apoiantes do partido.
O democrata explicou que tinha acabado de falar sobre o seu fraco desempenho no debate e que era “altura de colocar Trump no alvo”, realçando que Trump recebeu muito pouco escrutínio sobre as suas posições, retórica e falta de campanha.
Contudo, o Presidente dos Estados Unidos rejeitou a responsabilidade pela retórica inflamatória que culminou no ataque a Donald Trump, atribuindo-a ao rival republicano.
Apesar de admitir ter errado com o uso da expressão “colocar Trump no alvo”, Biden apontou para o rival e para as alegações de fraude eleitoral que levaram ao ataque de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio.
Pressionado a "fazer um exame de consciência" sobre a linguagem, Biden centrou-se em Trump e em declarações mais recentes do ex-presidente sobre o “banho de sangue” em caso de derrota ou as "piadas" que fez quando o "marido da congressista Nancy Pelosi foi atingido por um martelo".
"Eu não usei essa retórica, foi o meu adversário que a usou", disse Biden, que depois do ataque de sábado a Trump defendeu que a campanha presidencial fosse mais moderada.
O Presidente norte-americano disse que vai "continuar a falar sobre as coisas que importam" à população e prometeu "falar sobre como lidar com a fronteira em vez de falar sobre as pessoas como se fossem parasitas", uma referência à retórica anti-imigração de Trump.
"Esse é o tipo de linguagem inflamatória", assinalou.
Sobre a tentativa de assassínio do rival presidencial, Biden voltou a condenar a violência política, disse que a conversa subsequente entre os dois "foi cordial" e afirmou não ter pensado em como esse acontecimento ia mudar a trajetória da corrida à Casa Branca.
Depois de pedir uma investigação independente, Biden evitou classificar o ataque a Trump como uma falha de segurança e disse sentir-se "seguro com os Serviços Secretos".
No rescaldo do ataque, mostrou-se preocupado com "a saúde" de Trump e com "a proteção" dos candidatos presidenciais e vice-presidenciais "daqui para a frente", embora tenha citado apenas a experiência pessoal face às expressões "inflamatórias e maldosas" de eleitores de Trump.
"Nunca vi uma circunstância em que se percorre certas zonas rurais do país e as pessoas têm cartazes (...) de (apoio a) Trump que dizem 'F... Biden', com um miúdo a levantar o dedo do meio", explicou.
Em relação ao "número dois" de Trump anunciado na segunda-feira J.D. Vance, Biden lembrou os comentários negativos feitos pelo senador no passado sobre o ex-presidente e considerou que Vance simplesmente adotou a agenda do Republicano.
Biden voltou a rejeitar os apelos para suspender a campanha e dar o lugar a outro Democrata, lembrando os "14 milhões de pessoas" que votaram nele para ser o candidato do partido e que é apenas três anos "mais velho" do que Trump.
Sobre o debate com o candidato Republicano em junho, Joe Biden admitiu que "o irritou" porque não se ter sentido bem, queixou-se da imprensa por não ter falado das "28 mentiras" que Trump proferiu e descartou "outra atuação a esse nível" no próximo debate, previsto para setembro.
A polícia bloqueou o acesso à casa de Thomas Matthew Crooks, autor do atentado contra o ex-Presidente americano Donald Trump
Trump, 78 anos, sofreu no sábado ferimentos ligeiros numa orelha durante um ataque a tiro de que foi vítima durante um comício de pré-campanha para as presidenciais norte-americanas de novembro, que decorria no Estado da Pensilvânia.
Duas pessoas morreram no ataque, incluindo o atirador, identificado pela polícia federal norte-americana (FBI) como Thomas Matthew Crooks, 20 anos, que abriu fogo a partir de um telhado perto do local do comício.
Outras duas pessoas ficaram feridas no ataque.
A entrevista de Biden à NBC surgiu no mesmo dia em que a sua equipa de reeleição se preparava para retomar a campanha a todo o vapor após a tentativa de assassinato de Trump, especialmente depois de o candidato republicano ter anunciado o senador JD Vance, do Ohio, como companheiro de Donald Trump na corrida à Casa Branca.
Após o anúncio surgiu uma ‘enxurrada’ de críticas da campanha de Biden e de outros democratas sobre as posições políticas do jovem senador.
“Ele é um clone de Trump sobre os temas. Não vejo qualquer diferença”, frisou Biden aos jornalistas na Base Aérea de Andrews, pouco antes de partir para o Nevada para uma série de discursos e eventos de campanha.