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John Rapley, politólogo: “Os Estados Unidos acabarão por se render à China, mas Trump vai chamar-lhe ‘a arte da negociação’”

John Rapley, politólogo: “Os Estados Unidos acabarão por se render à China, mas Trump vai chamar-lhe ‘a arte da negociação’”
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Os impérios têm mais ou menos o mesmo ciclo de vida. Num primeiro momento crescem, alimentados pela riqueza que vão buscar às suas periferias; no fim, são por elas tomados. Na Antiguidade, a queda de um império envolvia muitos mortos, muito sangue, muitos anos de luta; hoje, a guerra é a da diplomacia e da economia. O economista político de Cambridge explica o declínio do império ocidental e o que ainda é possível fazer para salvar os valores sobre os quais se ergueu

John Rapley, politólogo: “Os Estados Unidos acabarão por se render à China, mas Trump vai chamar-lhe ‘a arte da negociação’”

Ana França

Jornalista da secção Internacional

John Rapley e Peter Heather são os autores de “Porque Caem os Impérios”, livro com poucas páginas para a sua imensa premissa: comparar a ascensão e a queda do Império Romano com o estado atual do Império Ocidental, como os autores apelidam o grupo de países que dominaram a economia no pós-Segunda Guerra Mundial.

Em turnos alternados e fusos horários complementares, os dois académicos têm-se revezado em entrevistas para tentar explicar por que razão o Ocidente começa a apresentar sintomas das mesmas maleitas que fizeram ruir outros colossos económico-culturais da nossa História.

Rapley, economista político na Universidade de Cambridge, falou com o Expresso dias depois de Donald Trump ter congelado por 90 dias as taxas alfandegárias que impôs a todos os países que exportam mais para os Estados Unidos do que lhes compram, que é mais ou menos o mundo todo. Isso não quer dizer que estas taxas não acabem por prejudicar mais o núcleo do império do que as suas periferias. No final, será Trump a a capitular, antecipa o investigador.

Depois de o Presidente americano ter apresentado as suas taxas, economistas, presidentes de bancos, grandes empresários e governantes mundiais arquitetaram um plano e lá conseguiram convencê-lo a refrear os ímpetos. Mas foi só quando lhe disseram que podia vir aí uma recessão que o inquilino da Casa Branca parou para escutar, por recear que a sua imagem ficasse manchada pela queda do que considera ser o seu império. Resta saber se foi a tempo.

Só conheceu Peter Heather, coautor deste “Porque Caem os Impérios”, que estuda o último período da Antiguidade, não se conheciam, quando um dia, por acaso, começaram a cruzar as vossas áreas de estudo: John com a globalização, Peter com a queda do império romano. Onde se cruzam estes mundos?
Cruzámo-nos na terceira lei de Newton, aquela que diz que, por cada ação, há uma reação de igual força, mas na direção oposta. Vivi e trabalhei parte da minha vida em países em desenvolvimento, portanto, nas periferias da globalização, e o Peter estudava a influência das regiões periféricas do Império Romano no seu desenvolvimento e, em última análise, no seu enfraquecimento. Ora, a minha investigação tratava de analisar de que forma a expansão dos espaços económicos, dos impérios económicos, leva a que as economias dos países em desenvolvimento possam, com o tempo, fazer frente ao núcleo, à metrópole.

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