EUA

Trump queria e está a acontecer: Canal do Panamá prepara-se para sair de posse de Hong Kong e voltar a mãos americanas

Trump queria e está a acontecer: Canal do Panamá prepara-se para sair de posse de Hong Kong e voltar a mãos americanas
Enea Lebrun/Reuters

BlackRock lidera consórcio que está a comprar gestora de portos de Hong Kong, incluindo das duas extremidades do Canal do Panamá. Operação ocorre após críticas de Trump sobre influência chinesa, mas grupo de Hong Kong nega

Trump queria e está a acontecer: Canal do Panamá prepara-se para sair de posse de Hong Kong e voltar a mãos americanas

Diogo Cavaleiro

Jornalista

A gestora de ativos americana BlackRock lidera um consórcio que se prepara para comprar os portos das extremidades do Canal do Panamá, permitindo assim cumprir o desejo de Donald Trump de afastá-lo de propriedade chinesa. “Uma vitória para Trump”, intitula o Financial Times.

“Negociações exclusivas relacionadas com a transação envolvendo certos portos detidos e operados pelo Hutchison Ports Group”: este é o título do comunicado que o grupo cotado em Hong Kong publicou esta terça-feira, 4 de fevereiro.

Há um “acordo de princípio” para que a BlackRock, enquanto líder de um consórcio que conta com a Terminal Investment Limited (que é detida pela Mediterranean Shipping Company, e possui terminais de contentores em Antuérpia, Roterdão, Los Angeles, Singapura ou, mais perto, Valência), compre a maioria do capital da Hutchison Port Group Holdings Limited. A avaliação do perímetro da empresa que será transferido para o consórcio liderado pela BlackRock é de 14,2 mil milhões, ou 13,6 mil milhões de euros.

A empresa a ser adquirida conta com presença em mais de duas dezenas de países, incluindo Espanha e Países Baixos, Médio Oriente e na América, onde controla os dois portos nos extremos do Canal do Panamá (Balboa e Cristobal). Esta operação de ligação entre o Pacífico e o Atlântico é exercida pelo grupo de Hong Kong há mais de duas décadas.

Nesta transação (em que se espera um acordo definitivo a 2 de abril), não estão incluídas as participações que o grupo cotado na Bolsa de Hong Kong tem na China.

Uma separação de águas, que vai em linha com o discurso assumido pela administração Trump, que pretende que uma das maiores ligações fluviais de mercadorias esteja na sua mão, e não da rival China.

Grupo de Hong Kong afasta natureza política do negócio

Donald Trump ameaçou recuperar a propriedade do canal, por considerar que estava capturado pela influência chinesa, conseguindo agora que sejam americanos a assegurar o controlo dos dois portos. “A China está a operar o Canal do Panamá. E nós não o demos à China. Nós demo-lo ao Panamá e estamos agora a recuperá-lo”, atirou Trump no seu discurso inaugural, a 20 de janeiro deste ano.

Não foi a única vez que o disse, desde que tomou posse, o presidente americano já se referiu pelo menos em três discursos oficiais ao Panamá e a como pretende recuperar das mãos chinesas (ou do partido comunista chinês, como chegou a acusar) a infraestrutura “mais cara de sempre a ser construída” das mãos chinesas.

“Esta transação resulta de um processo rápido, discreto e competitivo em que foram recebidas várias ofertas e manifestações de interesse”, segundo justifica o administrador-delegado Frank Sixt, em comunicado, onde afastou a transação da ligação política.

“Gostaria de frisar que a operação é de natureza puramente comercial e não está de todo relacionada com as recentes notícias políticas relacionadas com os portos do Panamá”, sublinha Frank Sixt. O grupo poderá gerar 19 mil milhões de dólares (cerca de 18 mil milhões de euros) com a operação, que tem ainda de ser aprovada pelas autoridades, nomeadamente o governo do Panamá, que Trump acusa de estar influenciado pela China.


(notícia atualizada para esclarecer que a empresa em venda detém os portos das extremidades do Canal, não é a proprietária do canal propriamente dito)

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate