Giuliani suspenso de rádio de Nova Iorque por defender conspirações sobre eleições de 2020
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O antigo advogado de Trump foi avisado várias vezes para não repetir informações falsas sobre fraude eleitoral nas eleições de 2020, está a ser investigado por ter tentado ajudar o antigo Presidente a reverter o resultado em alguns estados e encontra-se ainda em graves dificuldades para pagar todas as dívidas acumuladas na justiça
Rudy Giuliani, o antigo mayor de Nova Iorque, continua a cair em desgraça na justiça e na imprensa norte-americana. Na sexta-feira, a rádio nova-iorquina WABC suspendeu o espaço de comentário do republicano, por violar as políticas da estação ao tentar promover alegações sobre a eleição presidencial de 2020 em antena.
Ao New York Times, o bilionário que detém a WABC, o também republicano John Catsimatidis, explicou que Giuliani insistiu em abordar o assunto, apesar de Catsimatidis ter reiterado que a rádio “não vai falar de falácias sobre as eleições de novembro de 2020”.
“Avisei-o uma vez, duas vezes. E recebi uma mensagem dele ontem à noite e esta manhã [sexta-feira], a dizer que recusava não falar sobre isso. Portanto, não me deixou outra opção e suspendi-o”, esclareceu Catsimatidis.
Giuliani já respondeu à decisão da WABC e, num comunicado, disse que as políticas exercidas pela estação são “uma clara violação da liberdade de expressão” e negou ter conhecimento de uma censura a teorias da conspiração sobre as eleições que Joe Biden venceu contra Donald Trump. E referiu que só soube da suspensão quando leu a notícia na imprensa.
Num vídeo publicado na rede social X (antigo Twitter), condenou ainda a rádio por agradar ao “nojentinho” Joe Biden.
Rudy Giuliani chegou a ser uma das vozes mais proeminentes do Partido Republicano. Considerado “Pessoa do Ano” pela revista TIME pela forma como geriu a cidade de Nova Iorque depois do 11 de Setembro, Giuliani saltou de cargo para cargo até entrar no círculo mais próximo de Donald Trump, quando este se candidatou a presidente em 2016. Apesar de não ter feito parte da administração do presidente Trump, foi conselheiro do controverso e populista líder republicano.
Depois das eleições de 2020, Rudy, na altura advogado de Trump, procurou ativamente reverter os resultados em alguns estados onde a votação foi mais renhida. Giuliani ajudou a equipa jurídica do ex-presidente a desafiar os resultados, mas todas as teorias de conspiração e alegações de fraude eleitoral apontadas por Donald Trump foram consideradas falsas, e Joe Biden foi considerado o vencedor claro das presidenciais.
Nem Trump nem Giuliani deixaram de acreditar que a eleição foi roubada, e ambos estão a ser investigados pela justiça por tentativas de fraude eleitoral. Nos estados do Georgia e do Arizona, Giuliani enfrenta processos pelo seu papel nas eleições de 2020, incluindo por dois funcionários eleitorais, a que Rudy deve 148 milhões de dólares (cerca de 130 milhões de euros) por difamação.
As dificuldades financeiras do ex-“Mayor da América” são muito conhecidas. Donald Trump, agora novamente candidato à Casa Branca para as presidenciais de novembro deste ano, já organizou alguns eventos de angariação de fundos para apoiar o antigo advogado, que já declarou bancarrota e continua a amontoar dívidas. Segundo a NBC News, em março de 2016, Giuliani vendeu o seu luxuoso condomínio no estado da Flórida para pagar algumas indemnizações de processos; nas redes sociais, promoveu vídeos em que pessoas podiam pagar para que ele gravasse mensagens, de parabéns ou outras; e, em dezembro, o The Guardian dava conta que o montante que Giuliani deve - devido a uma montanha de queixas por agressões, abuso, fraude, difamação, entre outras - pode chegar aos 500 milhões de dólares.
Longa relação com Trump manchada após alegações de 2020
Apesar das controversas opiniões de Giuliani sobre vários temas, além das eleições de 2020, a WABC é um dos últimos órgãos de comunicação a segurar o antigo autarca a uma fonte de rendimento. Catsimatidis, um magnata ligado ao retalho, transformou a estação de rádio num palco para vozes conservadores e insólitas de Nova Iorque, e Giuliani tinha um programa todos os dias da semana, além de uma presença ao domingo.
Segundo o New York Times, Rudy Giuliani aufere cerca de 370 mil euros por ano na WABC, mas os documentos disponíveis através dos processos em tribunal demonstram que o ex-advogado continua a perder dinheiro, muito devido ao seu opulento estilo de vida.
A WABC acolheu Trump para algumas entrevistas, em que o antigo presidente continuou a alegar a existência de fraude nas eleições de 2020. John Catsimatidis foi recentemente um doador da campanha do candidato republicano. Mas as sequelas dos muitos processos de difamação aplicados contra extremistas republicanos, que promoveram a ideia de uma eleição roubada, levou muitos órgãos de comunicação, incluindo a WABC, a olhar para Giuliani com maior preocupação.
Em 2021, depois do ataque ao Capitólio por apoiantes de Trump, a empresa que detém a WABC reafirmou o resultado justo das eleições e deixou claro que não iria transmitir opiniões que apontassem para teorias falsas sobre o sufrágio.
Entretanto, o apresentador continuou a desafiar a questão e, quando foi condenado por difamar duas funcionárias eleitorais na Geórgia (que levaram a que as mulheres fossem alvo de várias ameaças de morte), usou o programa para continuar a fazer declarações falsas.
Antes da suspensão de Giuliani, Catsimatidis conta ao Times que, na quinta-feira, Giuliani estava numa tirada em direto contra os processos em tribunal contra si, e contra a revogação da sua licença para praticar advocacia em Nova Iorque - mas a rádio cortou-lhe a palavra e rapidamente desviou para outra notícia.
O bilionário sublinha que a decisão de suspender o ex-autarca republicano é dura, por conhecer Giuliani há quatro décadas. “Eu gosto dele como pessoa, mas não se pode fazer isso. Não se pode ultrapassar a linha”, vincou.