EUA

George Santos volta à política norte-americana, poucos meses depois de ser expulso do Congresso

George Santos volta à política norte-americana, poucos meses depois de ser expulso do Congresso
Drew Angerer/Getty Images

O ex-congressista republicano foi expulso pelos colegas no final do ano passado, depois de uma série de mentiras elaboradas sobre o seu currículo e de várias acusações de fraude terem marcado o seu único mandato na Câmara dos Representantes

George Santos volta à política norte-americana, poucos meses depois de ser expulso do Congresso

Hélio Carvalho

Jornalista

Menos de meio ano depois de ter sido expulso do Congresso dos Estados Unidos, George Santos decidiu desafiar a memória dos nova-iorquinos, anunciando na quinta-feira que vai tentar regressar à Câmara dos Representantes e derrubar um colega do Partido Republicano, que votou a favor da sua expulsão.

“Hoje, quero anunciar que vou voltar à arena política e vou desafiar o Nick [LaLota] em batalha pelo #NY1. Estou ansioso para debater com ele assuntos e o seu currículo fraco como republicano. A luta pela nossa maioria é imperativa para a sobrevivência do país”, afirmou Santos através da rede social X, enquanto Joe Biden dava o seu discurso do Estado da União.

Santos foi, indubitavelmente, uma das figuras mais mediáticas do último ano na política norte-americana. Eleito pelo 3.º distrito de Nova Iorque no final de 2022, recuperando com isso um lugar para os conservadores na Câmara dos Representantes, o congressista foi expulso menos de um ano depois de tomar posse. O seu lugar foi ocupado por outro republicano, Nick LaLota, que desvalorizou a candidatura de Santos.

Atualmente, Santos enfrenta 23 acusações de crimes federais, incluindo crimes de fraude fiscal eleitoral e roubo de identidade.

“De modo a elevar os padrões do Congresso e de responsabilizar o mentiroso patológico que roubou uma eleição, eu liderei o ataque para expulsar George Santos. Se acabar o trabalho implicar derrotá-lo numa primária, contem comigo”, avisou o atual representante do 1.º distrito de Nova Iorque, defendendo através do X que Santos devia estar “na prisão” pelos crimes em que foi acusado e pelo seu percurso no Congresso.

Tornou-se difícil acompanhar a cronologia de mentiras, de histórias não-verificadas e de relatos estapafúrdios e insólitos que foram sendo revelados sobre o congressista. As primeiras investigações foram publicadas ainda em dezembro de 2022 pelo New York Times, quando ele já tinha vencido a eleição em Nova Iorque e antes de tomar posse em Washington D.C., e as notícias sobre a vida privada e profissional de Santos encheram páginas de jornais durante meses, mas este recusou sempre demitir-se.

Santos alegou, ao longo do seu currículo, em várias entrevistas e em discursos, que: trabalhou na Goldman Sachs e no Citigroup; ingressou no ensino superior; apresentou contas de campanha que o avaliavam em 11 milhões de dólares (apesar das enormes dívidas amontoadas de anos anteriores); disse que era judeu; contou que funcionários seus tinham sido mortos num tiroteio em Orlando; revelou que os avós conseguiram fugir do Holocausto e que a sua mãe sobreviveu aos ataques do 11 de Setembro; gabou-se de ter sido uma “estrela” na equipa de voleibol universitária; e muitas outras alegações que, a certo ponto, tornaram-se indissociáveis das piadas pelos comediantes, a quem não faltou pano para mangas.

Outras pessoas contaram também a meios de comunicação norte-americanos que Santos, sob vários pseudónimos e nomes em diferentes fases da vida, terá atuado como ‘drag queen’ no Brasil e terá roubado milhares de dólares de uma página de angariação de fundos destinada a pagar um procedimento cirúrgico ao seu próprio cão, que morreu.

O congressista negou todas as acusações, nas redes sociais e nas televisões, mas entre as corridas pelos corredores do Congresso para fugir aos jornalistas, lá admitiu que algumas partes do seu currículo tinham sido exageradas.

A expulsão de George Santos foi consumada em 1 de dezembro de 2023, com 311 votos a favor e 114 votos contra (apenas 105 republicanos ficaram do seu lado), depois de meses de críticas de membros do seu distrito, que se confessaram enganados, e de colegas do próprio partido que pediram a sua saída. Santos tornou-se no sexto membro do Congresso a ser expulso na história dos EUA e apenas o primeiro a ser expulso sem ser um apoiante da Confederação.

Após a saída de Santos, foi anunciada uma eleição especial para preencher o lugar de representante pelo 3.º distrito de Nova Iorque. Tom Suozzi, um membro do Partido Democrata que tinha perdido o mesmo cargo para George Santos, recuperou-o no dia 13 de fevereiro deste ano.

Desde então, Santos tornou-se muito mais ativo nas redes sociais, especificamente na plataforma Cameo, onde vende mensagens de vídeo curtas e personalizadas. Recentemente, o republicano conservador processou o apresentador Jimmy Kimmel devido à utilização de vídeos falsos no programa de comédia de Kimmel.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hcarvalho@expresso.impresa.pt

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