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“Debate? Qual debate? Ah, o debate…”: aborto e Trump dominaram discursos dos candidatos republicanos na Califórnia

“Debate? Qual debate? Ah, o debate…”: aborto e Trump dominaram discursos dos candidatos republicanos na Califórnia
MIKE BLAKE/REUTERS

Joe Biden e Donald Trump fizeram marcação homem a homem no estado do Michigan, já de olhos postos nas presidenciais de novembro do próximo ano. Uma greve no sector automóvel, onde se discute aumentos salariais de quase 50%, com impacto a nível nacional, mobilizou as atenções dos dois políticos mais importantes da América, bem como de uma população que se concentra nos chamados “assuntos do bolso” e desvaloriza as primárias em curso. Nem os debates televisivos escapam, caso do realizado ontem à noite entre candidatos republicanos. É como se o processo de seleção tivesse terminado

“Debate? Qual debate? Ah, o debate…”: aborto e Trump dominaram discursos dos candidatos republicanos na Califórnia

Ricardo Lourenço

Correspondente nos Estados Unidos

Aos 76 anos, Glemie Beasley ainda vende “guaxinins frescos” à porta de casa, um cubículo forrado a placas de zinco, com uma teia de barracões nas traseiras. No congelador da cozinha continuam empilhadas carcaças, sinal de que o negócio floresceu. “Sabe a frango”, garante.

O expediente nasceu da necessidade. Há cerca de uma década, aquando da primeira conversa com o Expresso, este ex-trabalhador da indústria automóvel em Detroit recebia todos os meses 166 dólares (158 euros) da segurança social. Hoje, como naquela altura, senta-se numa cadeira de baloiço sob o alpendre, com uma velhinha guitarra semiacústica, e apregoa: “20 dólares cada, 30 por dois”.

Beasley tornou-se figura popular, símbolo de uma recuperação arrancada a ferros após pesada austeridade. Tudo começou com a insolvência da cidade, que em 2013 marinava numa dívida de 300 milhões de dólares (286 milhões de euros) e numa taxa de desemprego de quase 25%.

“Os tempos mudaram”, conta ao Expresso o americano, que surgiu, nos últimos dias, em piquetes de greve promovidos pelo United Auto Workers (UAW), um dos maiores sindicatos do sector nos Estados Unidos. “O homem-guaxinim voltou”, lia-se nalguns cartazes.

Os trabalhadores não pedem emprego, mas um aumento salarial de 46% ao longo dos próximos quatro anos, cifra em linha com as benesses oferecidas aos membros das administrações dos “três grandes”: Ford, General Motors (GM) e Stellantis. “Está tudo mais caro, a comida, o combustível, o empréstimo da casa. As poupanças desapareceram”, desabafa Claudia Pedraza, vizinha de Beasley, que desde 2015 trabalha numa fábrica da GM.

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