EUA

Batalha judicial sobre pílula abortiva chega ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos

Sede do Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América, em Washington
Sede do Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América, em Washington
Al Drago/Getty Images

Um tribunal federal de apelações decidiu que a pílula abortiva mifepristona ainda pode ser utilizada, mas reduziu o período de gravidez em que pode ser tomada e disse que não pode ser distribuída pelo correio. Governo liderado por Joe Biden anunciou que vai recorrer à mais alta instância jurídica dos Estados Unidos

O Supremo Tribunal dos Estados Unidos é a próxima paragem da luta jurídica sobre um medicamento utilizado no método de aborto mais comum do país, que por agora tem o seu uso apenas parcialmente restringido.

Um tribunal federal de apelações decidiu na quarta-feira que a pílula abortiva mifepristona ainda pode ser utilizada por enquanto, mas reduziu o período de gravidez em que a droga pode ser tomada e disse que não pode ser distribuída pelo correio, noticiou a agência Associated Press (AP).

De imediato, o Governo liderado pelo democrata Joe Biden anunciou que vai recorrer à mais alta instância jurídica dos Estados Unidos.

Na origem da batalha legal está a decisão, na semana passada, de um juiz de primeira instância no Texas conhecido pelas suas visões ultraconservadoras e que bloqueou completamente a aprovação do mifepristona pela agência norte-americana do Medicamento (FDA, Food and Drug Administration).

Apesar do consenso científico, o juiz Matthew Kacsmaryk, nomeado pelo republicano Donald Trump, considerou que o mifepristona representa riscos para a saúde das mulheres e suspendeu a sua autorização em todo o país.

O Governo irá "defender o julgamento científico" da FDA, que autorizou a pílula abortiva há mais de 20 anos, realçou o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland.

Este medicamento foi utilizado por mais de 5 milhões de mulheres para interromper a gravidez com segurança e atualmente mais da metade das mulheres que interrompem a gravidez dependem da droga, salientou o Departamento de Justiça.

Por outro lado, uma coligação de estados democratas já tinha recorrido a outro tribunal no final de fevereiro para tentar conservar o acesso a esta pílula.

Menos de uma hora após a decisão do juiz Kacsmaryk, um dos seus colegas, o juiz Thomas Rice, nomeado por Barack Obama e com assento no estado de Washington, considerou que o mifepristona era "seguro e eficaz" e proibiu a FDA de retirar a sua aprovação nos 17 estados na origem do recurso.

O processo do Texas sobre o mifepristone foi aberto em Amarillo no final do ano passado. A Alliance Defending Freedom, um grupo jurídico cristão conservador, representa os oponentes da pílula, que dizem que a aprovação do mifepristona pela FDA teve falhas.

Porquê Amarillo? O juiz distrital dos EUA, Matthew Kacsmaryk, é o único juiz distrital lá, garantindo que todos os casos apresentados na cidade do oeste do Texas chegam à sua mesa.

Desde que assumiu o cargo, este juiz decidiu contra o Governo Biden em várias outras questões, incluindo imigração e proteções da comunidade LGBTQ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero e Queer).

Depois da decisão sobre a pílula abortiva, o Governo Biden recorreu ao 5.º Tribunal de Apelações do Circuito dos EUA, com sede em Nova Orleans, para que impedisse que a decisão de Kacsmaryk entrasse em vigor por enquanto.

No final de quarta-feira, o tribunal de apelações restringiu a decisão de Kacsmaryk para que a aprovação inicial do mifepristona em 2000 não seja afetada.

No entanto, um painel dividido de três juízes reduziu o período de gravidez em que o medicamento pode ser tomado (nas primeiras sete semanas), determinou três visitas ao médico e que este medicamento não poderia ser dispensado pelo correio.

O Governo norte-americano também pediu ao tribunal do estado de Washington que esclareça a sua ordem, que o Departamento de Justiça observou estar em "tensão significativa" com a decisão inicial do Texas.

Não está claro como, agora que o tribunal de apelações decidiu, os dois casos interagem e impactam sobre o uso do medicamento. Nenhuma das fações conseguiu totalmente o que pretendia.

Por um lado, a Alliance Defending Freedom, em representação de médicos antiaborto e grupos médicos, destacou em conferência esta quinta-feira que não planeia pedir a intervenção do Supremo, ao contrário do Governo Biden. Por agora, é incerto como pode terminar este caso ao chegar ao Supremo Tribunal.

Esta mesma instância concedeu em junho uma vitória histórica aos opositores do aborto ao retirar o direito constitucional de interromper uma gravidez, dando assim a cada estado a liberdade de legislar sobre a matéria. Desde então, cerca de 15 estados já proibiram o aborto no seu território.

Os juízes conservadores esperavam que a sua decisão removesse o aborto dos seus planos, mas a luta pela pílula abortiva mostra o contrário. Depois do Supremo ser solicitado a ponderar, não há cronograma sobre quando poderá agir.

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