EUA

Nikki Haley anuncia candidatura à Casa Branca: quem é a primeira republicana a desafiar Trump para a liderança do partido?

Nikki Haley anuncia candidatura à Casa Branca: quem é a primeira republicana a desafiar Trump para a liderança do partido?
EVELYN HOCKSTEIN/Reuters

Nikki Haley foi a primeira governadora com ascendência asiática nos EUA e embaixadora norte-americana na ONU durante a presidência de Donald Trump. Agora, lança-se a uma candidatura à Casa Branca, sem grandes perspetivas de sucesso, mas com uma mensagem combativa e vontade de destronar o ex-presidente no partido republicano

Nikki Haley, ex-embaixadora norte-americana na ONU, anunciou esta terça-feira a sua candidatura à Presidência dos EUA, tornando-se a primeira republicana a desafiar oficialmente Donald Trump pelo privilégio de representar o partido nas eleições presidenciais de 2024.

A candidatura já era expectável nos círculos republicanos, mas foi confirmada através de um vídeo publicado na sua conta de Twitter, no qual a ex-embaixadora declara que chegou a “hora de uma nova geração de líderes” em Washington.

Entre críticas à administração de Joe Biden, Presidente dos EUA, Haley lembra que o partido Republicano “perdeu o voto popular em sete das últimas oito eleições presidenciais” e que as “elites de Washington têm-nos falhado repetidamente".

Para remediar isso, a política sugere um caminho baseado em três eixos fundamentais, que serve também para enquadrar a sua campanha e as ideias que defende: “redescobrir a responsabilidade orçamental, assegurar a segurança da nossa fronteira e fortalecer o nosso país, o nosso orgulho e o nosso propósito”.

A candidata à Casa Branca destacou-se inicialmente na arena política nacional enquanto governadora do estado da Carolina do Sul, cargo que ocupou entre 2011 e 2017, tornando-se a primeira mulher com ascendência asiática a alcançar o cargo de governadora nos EUA. Filha de imigrantes indianos, Haley, de 51 anos, destaca a sua ascendência como prova de que os princípios fundadores dos EUA não são “racistas e maldosos”, uma crítica que atribui à esquerda radical no país.

“Alguns olham para o nosso passado como prova de que os princípios fundadores da América são maus. Dizem que a promessa de liberdade é apenas fictícia. Nada poderia estar mais longe da verdade”, diz a ex-governadora no vídeo de campanha, enquanto se sucedem no ecrã fotografias de algumas das figuras centrais na ala mais à esquerda do partido democrata, como a congressista Alexandra Ocasio Cortez.

Como governadora, porém, Haley demonstrou relutância em alinhar com as fações mais à direita do partido republicano, especialmente em debates relacionados com questões raciais. Num dos momentos mais marcantes da sua carreira política, liderou o movimento que levou à remoção da bandeira da Confederação em vários edifícios estatais, isto na sequência de um massacre perpetrado por um supremacista branco na cidade de Charleston.

Após seis anos na mansão governamental da Carolina do Sul, foi nomeada por Donald Trump, o então Presidente norte-americano, para o cargo de embaixadora junto da ONU, uma plataforma que utilizou para defender veementemente os interesses dos EUA, valendo-lhe muitos admiradores entre os membros e eleitores do partido republicano.

Após o seu mandato terminar, no final de 2018, aproveitou a sua notoriedade e influência para promover vários candidatos republicanos no seu estado e a nível nacional, particularmente nas eleições preliminares de novembro de 2022, onde participou na campanha de políticos como Hershel Walker, que falhou a eleição como senador do estado da Geórgia, ou o senador Ron Johnson, reeleito no Wisconsin.

Nikki Haley, candidata à Casa Branca, a discursar num evento para a campanha de Hershel Walker nas eleições intercalares dos EUA, em 2022
Anadolu Agency

O fator Trump

A reação de Donald Trump à candidatura de Haley está a ser analisada ao pormenor, especialmente tendo em conta o histórico de colaboração política entre as duas figuras e o facto de a ex-governadora ser a primeira republicana a desafiá-lo publicamente para a liderança do partido.

Como nota o “The New York Times”, Trump nunca se opôs a uma potencial candidatura da sua ex-embaixadora, escrevendo na rede social Truth Social, a 2 de fevereiro, que Haley “tinha de seguir o seu coração, não a sua honra” e que “devia definitivamente candidatar-se”.

Para o jornal, estas declarações podem indicar que Trump não considera a candidatura anunciada esta terça-feira como uma ameaça. Mais: na perspetiva do ex-presidente, seria preferível que um elevado número de republicanos se candidatasse, permitindo a Trump assegurar a nomeação do partido apenas com uma pluralidade de eleitores - aqueles que sempre o apoiaram independentemente de todos os escândalos e políticas erráticas.

Por sua vez, Haley parece reconhecer a dificuldade da tarefa que tem pela frente, algo que fica patente na inconsistência que marca as declarações públicas da ex-governadora relativamente a Donald Trump.

Começou por ser manifestamente contra Trump quando da sua campanha presidencial de 2016, criticando a sua política de imigração, a sua retórica populista e até contestando publicamente algumas das suas decisões enquanto embaixadora na ONU. Transformou-se, depois, numa das suas aliadas mais ferozes, dizendo que “sempre que lidou com ele, era sincero, ouvia e era uma ótima pessoa com quem trabalhar” e elogiando a sua estratégia face à Rússia e ao Presidente Vladimir Putin.

Tudo mudou em 2021, dias após milhares de pessoas irromperam de forma violenta no Capitólio, em Washington, para procurar impedir a ratificação da vitória eleitoral do democrata Joe Biden. Nessa altura, foi extremamente crítica das ações do ex-presidente, que difundiu acusações falsas sobre a existência de uma fraude eleitoral, e afirmou que estas seriam "julgadas duramente pela História".

“Ele seguiu um caminho que não devia, e nós não o devíamos ter seguido, e não o devíamos ter escutado”, disse numa entrevista ao jornal “Politico”. Ao mesmo tempo, recusou apoiar o esforço do partido democrata de retirar Trump da presidência, através de um processo de "impeachment".

Face à incerteza, a maioria dos analistas políticos norte-americanos não antecipam uma campanha bem sucedida, apontando que Donald Trump é ainda o preferido da larga maioria dos eleitores republicanos e que há candidatos mais fortes noutras regiões do país, entre eles um dos grandes favoritos: Ron DeSantis, o governador da Flórida, de quem há muito se espera um anúncio similar.

Haley, contudo, permanece combativa, e termina o vídeo de campanha desta forma: "algumas pessoas olham para a América e veem vulnerabilidade. A esquerda socialista vê uma oportunidade de reescrever a história. A China e a Rússia estão a avançar. Todos eles pensam que podemos ser intimidados. Devem saber isto sobre mim: Eu não suporto rufias, e quando contra-atacamos, magoamo-los mais se usarmos saltos altos".

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