EUA

“O nosso movimento só agora começou”: Trump já fez o seu discurso de despedida (e prometeu rezar pelo sucesso de Biden)

Donald Trump sai da Casa Branca com a mais baixa taxa de aprovação de qualquer Presidente desde que estes indicadores são medidos. Foi alvo de dois processos de impeachment, aprofundou a distância que há muito se adensava entre republicanos e democratas e não mostrou a preocupação exigida na luta contra a covid-19

“O nosso movimento só agora começou”: Trump já fez o seu discurso de despedida (e prometeu rezar pelo sucesso de Biden)

Ana França

Jornalista da secção Internacional

Num discurso de despedida, gravado em vídeo e não em direto nas televisões, Donald Trump, que esta quarta-feira pelo meio dia deixa de ser Presidente dos Estados Unidos, disse algumas coisas óbvias e outras que destoaram do seu tom quase sempre conflituoso. Prometeu “rezar” pelo sucesso de Joe Biden, apelou à união e admitiu que todos os norte-americanos veem com “horror” o que se passou no Capitólio a 6 de janeiro. Ao mesmo tempo, deixou um aviso: “Agora, enquanto me preparo para entregar o poder a um novo governo ao meio-dia de quarta-feira, quero que saibam que o movimento que iniciámos está apenas no início”.

É claramente um sinal para quem o ouve das trincheiras desta luta que ainda ocupa a mente de muitos norte-americanos, convencidos de que Biden venceu por via de uma fraude generalizada que Trump sempre alimentou. E se as metáforas bélicas pareciam um exagero até à invasão do Capitólio por centenas de apoiantes bastante violentos do ainda Presidente, agora o assunto é tratado com muito mais cuidado - é só olhar para a capital, Washington D.C., onde Biden toma posse esta quarta-feira, para ver o redobrar do esmero: há mais militares em alguns quilómetros quadrados do que destacados em dois dos mais perigosos cenários de guerra do mundo - o Iraque e o Afeganistão.

Depois desta promessa, Trump voltou a moderar o discurso. "A violência política é um ataque a tudo que prezamos como americanos e nunca pode ser tolerada. A nossa crença no facto de que a nação deve servir os seus cidadãos não diminuirá, ficará cada vez mais forte à medida que o tempo passa.”

Depois de alguns parágrafos sobre a sua chegada à Casa Branca (“como uma pessoa fora do sistema”), Trump agradeceu aos “milhões de patriotas trabalhadores em todo o país” por o terem ajudado a construir o “o maior movimento político da História” dos Estados Unidos.

Entre a lista de sucessos da sua Administração, Trump destacou “a construção da mais forte economia de sempre”, a introdução de um grande corte de impostos e o fim de regulamentos “fatais para a criação de emprego", os acordos que conseguiu entre países sem relações diplomáticas prévias (nomeadamente entre Israel e os países do Golfo), o aumento das contribuições para o orçamento da NATO e as “históricas e monumentais” tarifas impostas à China.

Além disso, e isto é de facto um ponto que até os críticos elogiam, Trump não começou mais guerras - e o ainda Presidente dos EUA também referiu isso mesmo. Mas, na verdade, não se sabe ainda quantas guerras Trump quis travar e foi disso impedido pelos seus generais, conselheiros ou advogados. Pelo menos uma, com o Irão, por causa do seu programa de enriquecimento nuclear, conseguiriam impedir. “Tudo o que fizemos foi sob o lema ‘América primeiro’ porque todos nós queríamos tornar a América grande outra vez novamente”, disse Trump.

Depois de desejar boa sorte a Biden e de agradecer a Mike Pence, seu vice-presidente, pelo apoio e pelo serviço, Trump finalizou com um pedido: “Agora mais do que nunca devemos unir-nos em torno de nossos valores partilhados, superar o rancor partidário e forjar o nosso destino comum”.

Trump deixa a Casa Branca com o menor índice de aprovação de todos os tempos, com apenas 33% dos americanos fãs da sua sua conduta até ao último minuto, de acordo com uma nova sondagem da Universidade Quinnipiac. A desaprovação é de 60%, a pior desde que Jimmy Carter deixou o cargo, em 1981, com 44%.

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