A família Trump vai ficar desempregada? A vitória de Joe Biden nas eleições americanas significa que, em janeiro de 2021, não é apenas Donald Trump que terá de sair da Casa Branca: todos os membros do clã que nos últimos quatro anos tiveram funções na administração do Presidente também, incluindo a filha Ivanka e o genro Jared Kushner. Além destes, o processo democrático também poderá ter impacto nos filhos que Donald deixou longe da residência presidencial: Donald Jr. e Eric têm estado à frente da Trump Organization nos últimos quatro anos, e não é certo que a vida da empresa continue igual depois de Trump se despedir do número 1600 da Avenida Pensilvânia, em Washington DC.
No sábado, Eric Trump, terceiro filho de Donald e porta-voz da empresa do pai, não respondeu quando foi questionado sobre quais os planos do presidente para os seus negócios depois de abandonar a Casa Branca. Trump alegou ter perdido "entre três a cinco mil milhões de dólares” em negócios para a sua empresa por ter conquistado a Presidência dos Estados Unidos. Nessa altura, recusou vender a empresa, optando por colocá-la num “trust fund”: um fundo fiduciário que, garantiu, iria eliminar quaisquer conflitos de interesse entre o cargo público e os interesses privados - o que seria acertado, não fosse o fundo ter ficado nas mãos dos seus filhos.
A Trump Organization não atravessa um bom período: no último ano desistiu de construir uma nova linha de hotéis, e uma recente investigação do “New York Times” mostrou que, apesar de ter registado receitas de 446 milhões de dólares em 2019, o cargo atual de Trump teve um efeito negativo na saúde financeira da empresa.
“Fizemos sacrifícios tremendos nos últimos anos, enfrentamos mais escrutínio do que qualquer pessoa imaginaria e mesmo assim continuamos no topo da nossa forma”, escreveu em comunicado a Trump Organization, em resposta a um artigo do “Times” que analisava o desafio que Trump terá pela frente para revitalizar a companhia. Isto não esquecendo que, nos próximos quatro anos, terá de pagar um total de 300 milhões de dólares em empréstimos, obrigações pelas quais é pessoalmente responsável.
O "Chicago Tribune" aponta que “a forma mais rápida” que a empresa tem de continuar em forma - ou seja, ultrapassar os problemas financeiros - será virar-se novamente para o mercado imobiliário internacional: ou seja, licenciando hotéis e outros edifícios com o nome “Trump” - capitalizando assim a popularidade do ainda Presidente, tal como acontecia antes de 2016. O método não tem riscos: não é preciso construir ou investir um cêntimo, e cada acordo vale entre 500 mil e um milhão de dólares para os cofres da empresa, diz o jornal. No entanto, a pandemia atacou com violência os sectores imobiliário e da hotelaria e isso poderá reflectir-se no volume de negócios da estrela de “O Aprendiz” - aliás, as declarações de impostos de Trump mostram que a televisão teve um papel decisivo a fazer chegar dinheiro fresco às suas mãos e o “Times” especula que o atual Presidente poderá voltar ao pequeno ecrã para ganhar a vida.
Uma coisa é certa: mais ou menos saudável, a empresa de Trump continuará a ser investigada pela justiça no futuro. Procuradores de Nova Iorque continuam à procura de elementos que provem potenciais crimes financeiros cometidos pela empresa: há suspeitas de que a empresa propositadamente subavaliou ativos para obter benefícios fiscais e empréstimos. A organização nega qualquer transgressão.
Ivanka: corrida à presidência ou programa em horário nobre?
Depois há Ivanka, conselheira de Trump na Casa Branca em assuntos como a educação e a igualdade de género nos últimos quatro anos. Em julho, deu o seguinte conselho aos desempregados norte-americanos: “Sugiro que visitem o site FindSomethingNew.org. Agora, como consequência da covid, as pessoas precisam de, infelizmente.... aprender novas competências.” Ainda não é certo se Ivanka vai seguir o seu próprio concelho e tratar de “arranjar alguma coisa nova”.
Aos 39 anos, a sua experiência laboral está intimamente relacionada com os empreendimentos do pai e o seu projecto “independente” já não existe: a marca de roupa que detinha fechou portas em 2018. Na altura, Ivanka explicou o encerramento com “o trabalho que estou a fazer aqui em Washington”, mas no ano anterior as suas linhas modistas tinham sido abandonadas pelas gigantes redes de lojas Neiman Marcus e Nordstrom. A razão? Más vendas.
Não há moda, mas há (sempre) a televisão. O “Guardian” lembra que a caixinha mágica transformou os elementos da família Trump em superestrelas e um mandato em Washington não irá alterar isso. O jornal cita a revista “OK! Magazine”, que assegura que a família tem recebido “bastantes ofertas para reality shows” - e que Ivanka está a ser especialmente sondada. “Não deverá ser uma surpresa que os filhos voltem à televisão, assim como não é surpresa o facto de a Ivanka ser o membro da família que mais ofertas está a ter, incluindo do [programa] 'Dancing With the Stars'”, escreveu a revista, rematando com uma declaração de um amigo da ex-modelo: “Ela poderia ter o seu próprio programa em horário nobre na televisão por cabo se quisesse.”
A alternativa? A Presidência. Nos últimos dias tem aumentado a especulação sobre uma eventual corrida presidencial de Ivanka em 2024: tem uma boa presença mediática e é vista como tendo uma visão política mais progressista do que a do pai. Por outro lado, uma recente sondagem conduzida para o “The Independent” mostra que os eleitores americanos rejeitam a ideia de uma dinastia: 61% não quer que Ivanka tente ser presidente em 2024 e o mesmo desejo aplica-se a Donald Jr., o irmão mais velho e atual vice-presidente executivo da Trump Organization. Entre apoiantes de Trump, a percentagem é mais baixa mas igualmente significativa: 31%.
Jared Kushner, marido de Ivanka e genro de Trump, foi outro dos familiares que assumiu uma posição de relevo durante os últimos quatro anos enquanto assessor sénior do Presidente. Agora, nos bastidores, tem sido uma das vozes mais activas a aconselhar Trump a acatar o resultado das eleições e a preparar uma estratégia de saída. Quando uma decisão for tomada e a transição acontecer, Jared poderá retornar à vida empresarial que tinha antes de chegar à Casa Branca: tinha seguido os passos do pai e tornou-se também investidor no mercado imobiliário, além de ser proprietário do jornal “Observer”, que deixou nas mãos do cunhado em 2017.
Segundo o site noticioso “Politico”, Jared não está sozinho na tentativa de convencer o presidente a sair sem estrondo do lugar: partilha essa responsabilidade com Melania, a discreta mulher de Trump. Porém, a família está dividida: do outro lado estão os filhos do milionário. Donald Jr. já se revoltou no Twitter contra o processo democrático - “70 milhões de republicanos lixados e ainda há uma cidade a arder” - e a incitação à violência parece mostrar que é leal a estratégia do pai de pôr em causa os resultados eleitorais.