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Eleições EUA. Onze semanas até à saída de Trump são as "mais imprevisíveis" de sempre

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CARLOS BARRIA/Reuters

Até à tomada de posse de Joe Biden como presidente, em janeiro, Donald Trump terá ainda de atravessar dois meses e meio de governação. Os analistas não hesitam em dizer que se trata das semanas "mais imprevisíveis" da história do país

Donald Trump perdeu as eleições. É um facto. Mas também é facto que ainda lhe restam 11 semanas à frente da presidência. Os analistas apontam esse período até à tomada de posse de Joe Biden, a 20 de janeiro, como um dos mais perigosos e imprevisíveis da história do país.

Não é de admirar: o ainda presidente tem um longo historial de não reconhecer os acontecimentos que se passam mesmo à sua frente. E se Trump demorou muito a tomar decisões face à pandemia do novo coronavírus no seu país, espera-se que a vitória do seu adversário presidencial também não seja aceite de imediato.

Esta fase intermédia, a que os norte-americanos deram o nome de lame duck [pato coxo], presta-se aos maiores desmandos e Trump escolherá a auto-preservação. "Ele irá perdoar-se a si mesmo. Espera que o Supremo Tribunal o defenda", comenta o analista político Malcolm Nance ao jornal britânico "The Guardian", notando: "Se Trump perde o poder vai passar os seus últimos 90 dias a demolir os EUA como um criança maliciosa com uma marreta numa loja de louça."

O que quer isto dizer? Primeiro, que serão 90 dias sem mudanças substantivas em áreas sensíveis e que reclamam atenção imediata, como a própria pandemia. "Todos os sinais indicam que a administração Trump vai continuar a abordagem do 'deixa andar' no que toca à Covid 19, em termos de medidas de mitigação da doença", escreve a revista "Forbes".

No dia das eleições, a 3 de novembro, o "The New York Times" salientava que o período compreendido entre o resultado das eleições e o dia da tomada de posse do novo presidente iria coincidir com a fase "mais escura e potencialmente mortal da pandemia" — e recordava como Trump encerrou o diálogo com os especialistas em coronavírus da Casa Branca ao mesmo tempo que dizia aos eleitores que o país estava a "virar a esquina" na luta contra a Covid 19.

Há um mês, o "Washington Post" noticiou que a administração Trump não gastou os 9 mil milhões de dólares alocados para incrementar os testes de Covid 19, apesar da pressão de especialistas em saúde pública como Anthony Fauci e Deborah Birx. "O desinteresse de Trump em confrontar a pandemia parece ter aumentado desde que foi hospitalizado com o vírus em outubro", pontua o site "The Soapbox".

Noutro quadrante, existe a forte possibilidade de revolta civil por parte dos cidadãos que se sentem defraudados com o resultado eleitoral. E entre os apoiantes de Donald Trump há milícias armadas e supremacistas brancos. Segundo Malcolm Nance, os atos fora da lei podem beneficiar da benevolência do ainda presidente. O mesmo pode acontecer a figuras próximas de Trump que enfrentam processos judiciais, como Michael Flynn e Steve Bannon — "tudo o que o beneficiar pessoalmente, tudo o que beneficiar as suas crenças, ele irá fazê-lo", acrescenta Nance.

Em termos de política internacional, receia-se uma retirada das tropas americanas do Afeganistão e ações que comprometam ainda mais a paz no Médio Oriente — Trump pode decidir sancionar a anexação por Israel de grande parte da Cisjordânia e, se assim for, Biden terá de lidar com as consequências.

Donald Trump já prometeu litigar o máximo possível de modo a obstar a chegada do seu oponente à Casa Branca. E se, escreve a revista "Politico", o presidente não vai a tempo de tomar decisões que não possam ser logo revertidas por Joe Biden, ele ainda tem tempo de "punir os seus inimigos e recompensar os que lhe foram leais".

"Não sabemos exatamente o que é que Trump fará nos últimos dias, apenas que, o que quer que isso seja, será a pensar apenas em si próprio", disse Garry Gasparov, antigo campião de xadrês e atual dirigente da Fundação de Direitos humanos, à CNN. "Os americanos que queiram ver a letra da lei restaurada e fortalecida têm de estar prontos para lutar por ela, nos tribunais e nas ruas se necessário, pacífica mas persistentemente, porque há poucas dúvidas de que Trump e os seus apoiantes não irão ficar calados", asseverou.

A verdade é que Donald Trump ainda não se pronunciou e a tradicional saudação ao rival vencedor ainda não ocorreu. E o seu último post na rede social Twitter foi a declarar a vitória republicana.

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