Cerca de 20 horas depois de terem fechado a maior parte das estações de voto, a poucos minutos de a CNN confirmar a sua vitória no Michigan (segundo estado que mudou de cor), Joe Biden apareceu para uma declaração ao lado da sua candidata a vice-Presidente, Kamala Harris. O objetivo era marcar posição como vencedor, mas o tom não podia ser em maior contraste com o de Donald Trump. União em vez de divisão, calma em vez de fúria, confiança em vez da intranquilidade do atual Presidente - que vai atrás na contagem de votos.
"Meus amigos americanos, provaram de novo que a democracia é o coração deste país. Mais de 150 milhões votaram e isso é extraordinário. O governo do povo e para o povo está vivo", começou Joe Biden, para depois se apresentar como "next-to-be-President": "Aqui o povo manda. E determina quem vai ser o Presidente dos EUA. E, depois de muitos votos contados, é claro que estamos a ganhar estados suficientes para ganhar os 270 votos. Não estamos aqui para declarar que ganhámos, mas para dizer que no fim confiamos que seremos vencedores".
Depois, Biden correu as vitórias Maine e no Michigan, confirmadas já hoje. Disse ter "bons sentimentos" sobre o resultado final na Pensilvânia - os dois últimos, estados que Trump já anunciou que contestará judicialmente. Biden nunca se referiu a isso diretamente, quis antes sublinhar confiança no final do processo: "Acredito numa vitória no Nebraska".
E prosseguiu.
"Estamos na rota para ganhar", disse, para depois sublinhar o feito histórico que acredita estar a cumprir, lembrando que só três duplas derrotaram um Presidente no cargo. "É um ganho extraordinário", disse.
Mas o objetivo era apresentar-se como próximo Presidente. Pelo que Biden voltou ao tom apaziguador, prometendo paz depois da batalha: "Quando acabar este processo, vamos fazer o que devemos fazer, deixar a campanha para trás, baixar a temperatura, ouvir os outros, respeitar e tratar dos outros. Unir, curar, juntar a nação".
Mas Biden sabe que Trump vai lutar. E que também acabou por ver reforçada a sua votação total. Tudo isso pode implicar resistências, mais luta e divisão. Biden quis travar esse futuro: "Eu sei que não é fácil, não sou ingénuo. Mas também sei que temos de parar de tratar os opositores como inimigos, não somos inimigos. Eu fiz campanha como Democrata, mas governarei como Presidente. A Presidência não é partidária, é o único gabinete que representa todos. Trabalharei por todos os que não votaram em mim também."
Para Trump ficou uma resposta direta - mas nunca explícita. "Ninguém vai tirar-nos a democracia, nem agora, nem nunca. Nós, o povo, não seremos silenciados, não seremos pressionados, não nos vamos render. Isto não vai ser a minha vitória, a nossa, será a vitória de todos. Não haverá estados azuis, nem vermelhos. Haverá os Estados Unidos da América".
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