840 mil. O número foi anunciado esta quinta-feira e representa a quantidade de norte-americanos que estão neste momento à espera de receber apoios sociais por desemprego. Tem-se falado muito sobre covid ao longo desta campanha e esse é sem dúvida um tema importante, em que Joe Biden quer continuar a martelar. Mas Donald Trump prefere falar em economia. E, nem que de propósito, esta quinta-feira saíram novos dados oficiais do governo norte-americano sobre a crise económica provocada pela pandemia.
O número de pessoas que está atualmente a receber subsídio de desemprego caiu em 1 milhão face à semana passada — são atualmente 11 milhões aqueles que estão a receber este apoio. Mas, como relembra a Associated Press, tal não significa que tenham todos encontrado novamente emprego. Alguns simplesmente já esgotaram as 26 semanas de subsídio a que têm direito e tiveram de se candidatar a outro tipo de apoios sociais.
A situação não parece ter perspetivas de melhorar já que, se bem nos recordamos, as negociações para novos apoios entre democratas e republicanos foram suspensas pelo Presidente Trump, que acusou Nancy Pelosi (líder democrata da Câmara dos Representantes) de politizar os apoios sociais e tentar favorecer cidades e estados geridos por democratas. Os 44 mil milhões de dólares que Trump canalizou para apoios sociais em agosto, através de uma ordem executiva, estão a esgotar-se. Entretanto, há 840 mil norte-americanos que perderam o emprego e ainda não receberam um cêntimo de apoio estatal. De facto, nem só de covid se faz uma campanha.
A FRASE
“Sinto-me óptimo!” Foi esta a frase dita pelo Presidente Donald Trump na manhã de quarta-feira, de acordo com o médico que o avaliou. Tinham passado apenas dois dias desde que Trump tinha tido alta do hospital — mas, de acordo com o Dr. Sean Conley, tudo está bem com o Presidente que “está agora sem febre há já quatro dias, sem sintomas há 24 horas e não necessitou nem recebeu de nenhum oxigénio suplementar desde a hospitalização”. Tão bem que Conley até diz que o chefe de Estado já pode ter alta no sábado.
NOS QUARTÉIS DE CAMPANHA…
Há um tópico que preocupa e muito alguns quartéis de campanha atualmente — mas não os dos candidatos presidenciais. Vale a pena recordar que, no dia 3 de novembro, os norte-americanos não irão apenas votar no Presidente que querem, mas também numa série de outros cargos e propostas. Em alguns estados, irão mesmo votar nos senadores que querem que os representem na câmara alta do Congresso, o que pode significar uma continuação da maioria republicana no Senado ou uma perda para os democratas.
Ora, é aqui que a situação se complica para alguns, nomeadamente republicanos que estão a recandidatar-se ao lugar e que procuram a distância certa de Trump para conseguirem ser reeleitos. A medida pode ser difícil de calcular. Veja-se o caso de Susan Collins: a a republicana do Maine é conhecida como uma veterana moderada dentro do Partido Republicano — e, contudo, ao longo desta presidência teve tendência a votar alinhada com os colegas a maior parte das vezes.
A oposição sabe-o e por isso a adversária democrata Sara Gideon tem aproveitado para explorar essa falta de oposição clara a Trump com uma enxurrada de anúncios televisivos (90 milhões de dólares já foram gastos no Maine pelo Partido Democrata, lembra o Politico). Em causa está o facto da moderação de Collins contribuir normalmente para conseguir votos entre muitos independentes ou democratas mais centristas — o que está agora em risco.
E Collins não é a única a ter de fazer esse exercício complicado. Também é o caso de Carlos Giménez, presidente da Câmara de Miami-Dade (sim, eis que voltamos à Florida uma vez mais). Republicano e próximo do Presidente, Giménez alinha normalmente com Trump, mas tem um problema em mãos: com a Florida a ser uma das regiões mais afetadas pela covid-19 e a concorrer numa cidade onde 87% da população é negra ou latina, Giménez precisa de equilibrar a mensagem se quiser vencer. É por isso que tem aparecido várias vezes em público de máscara e reforça a importância das medidas de saúde pública, divergindo do tom de Trump.
...E PARA LÁ DE WASHINGTON D.C.
Olhamos hoje para Nova Iorque, onde a pandemia de covid-19 já matou mais de 20 mil pessoas e pode agora estar a ganhar novamente força numa segunda vaga. Na terça-feira, o governador Andrew Cuomo decidiu ordenar novo confinamento em algumas zonas dos bairros de Queens e Brooklyn, bem como impor uma série de ordens como novas regras nas zonas de culto.
Em causa está, mais concretamente, a acumulação de pessoas em sinagogas nos bairros de judeus ortodoxos da Big Apple, da comunidade hassídica. Num grupo da população extremamente ortodoxo e que rejeita, por vezes, alguns elementos da vida moderna, tem surgido alguma resistência ao cumprimentos das ordens de saúde pública. Por isso mesmo, Cuomo tentou apelar diretamente aos hassídicos, dizendo que “A Torá conta como algumas obrigações religiosas podem ser evitadas se o objetivo for salvar uma vida”, disse, citado pelo New York Times, apelando para que não se concentrassem nas sinagogas.
É a tentativa do governador de por água na fervura, numa situação onde a tensão tem vindo a aumentar ao longo das semanas passadas. Muitos dos membros da comunidade têm seguido com atenção as declarações do Presidente e evitam, por exemplo, o uso da máscara. Isso tem-se refletido em conflitos, como o descrito pelo jornalista judeu Jacob Kornbluh ao Washington Post: “Eram membros da minha própria comunidade com ódio nos olhos, a apontarem-me o dedo, a chamarem-me Nazi e a dizerem que eu devia morrer”. Tudo isto porque Konbluh tem escrito artigos no Jewish Insider a insistir na necessidade de cumprir as medidas de saúde pública, como o uso da máscara.
NOSTALGIA AMERICANA
Eis que, sabendo agora que o próximo debate presidencial está previsto ser feito virtualmente, Donald Trump anuncia que pode não aparecer - e entretanto a situação já deu tantas voltas que o duelo de palavras até pode manter-se para esta quinta-feira, como estava previsto. O momento é ideal para relembrar outra altura na história das presidências norte-americanas em que um Presidente em funções evitou um debate, por achar que o poderia prejudicar mais do que favorecer.
Estávamos em 1980 e Jimmy Carter propunha-se à reeleição, carregando às costas o drama dos diplomatas norte-americanos feitos refém na embaixada no Irão, que durava há meses e meses. No primeiro debate, como relembra a CNN, Carter optou por não participar. O motivo? A presença de um terceiro candidato para além do principal adversário, Ronald Reagan. Em causa estava o independente John Anderson, que a Slate define como um “congressista republicano liberal, que se tornou um veículo para os eleitores liberais anti-Carter”. Ou seja, ameaçava roubar votos ao Presidente em funções — e, por isso, Carter recusou-se a estar no mesmo palco com ele.
Já no debate seguinte, foi combinado que apenas se enfrentariam Carter e Reagan, mas o tiro saiu pela culatra ao Presidente. Reagan foi o claro vencedor, cunhando a frase “Aí está você de novo” cada vez que Carter o acusava de algo que ele negava ser verdade — como de ter planos para cortar a Medicare. No final, o debate contribuiu para aumentar a distância de Reagan face a Carter e pode ter sido decisivo para ajudar à vitória do republicano.
A SONDAGEM DO DIA
Hoje voltamos a olhar para um estudo de opinião a nível nacional que consolida a tendência que tem sido apontada por todas as sondagens nas últimas semanas: a de que Trump está em queda e Biden em ascensão. Ora então porquê destacar esta em particular? Porque esta é da Rasmussen, uma empresa de estudos de opinião que, já desde 2016, tem sempre tendencialmente dados mais favoráveis a Donald Trump do que as restantes.
E, mesmo assim, os números mais recentes da Rasmussen estão longe de ser favoráveis a Donald Trump neste momento. Em termos de intenções de voto, Biden segue com 52%, contra apenas 40% do lado do republicano. E as más notícias não se ficam por aqui. Como diz a própria empresa, “a corrida apertou ao longo das últimas três semanas. Biden tem agora mais de 50% das intenções de voto há mais de três semanas seguidas, enquanto que Trump desceu para o nível de apoio mais baixo desde a primeira semana de julho”.