Brasil

Biden vai receber Lula em Washington: dois Presidentes que o clima une e as armas para a Ucrânia separam

Biden vai receber Lula em Washington: dois Presidentes que o clima une e as armas para a Ucrânia separam
EPA

Joe Biden recebe Lula na Casa Branca esta sexta-feira, naquele que será um encontro simbólico de dois chefes de Estado que derrotaram populistas de direita nas urnas. Lula aproveita a visita aos Estados Unidos para reunir com Bernie Sanders

O Presidente Joe Biden fez um telefonema de solidariedade a Lula da Silva um dia depois dos violentos ataques às sedes do poder democrático brasileiro, a 8 de janeiro, e aproveitou para convidar o seu homólogo brasileiro a visitar os Estados Unidos.

Lula aceitou o convite e viaja para Washington exatamente um mês depois de Biden o ter convidado.

O encontro entre os dois presidentes está previsto para o final da tarde de sexta-feira, na Casa Branca.

Se o combate às alterações climáticas, defesa da qualidade ambiental e da floresta amazónica são pontos consensuais na agenda dos dois chefes de Estado, os dois podem discordar – escreve o jornal Folha de São Paulo – no que toca ao apoio e fornecimento de armamento à guerra da Ucrânia.

O Governo brasileiro condena firmemente a guerra da Ucrânia mas, apesar disso, não é expectável que Lula da Silva desalinhe da política seguida por Jair Bolsonaro e venha a concordar com o fornecimento de armas ou uma interferência direta no conflito. “Biden não vai conseguir uma declaração de Lula nesse sentido”, disse ao Expresso o professor de Filosofia Política, Renato Lessa.

Recorde-se que o Presidente do Brasil ja recusou o pedido feito pelo chanceler Olaf Scholz no final de janeiro, para o Brasil enviar tanques para a Ucrânia.

Biden vai insistir no armamento para Kiev

De acordo com John Kirby, coordenador de comunicação estratégica do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos (citado pela Folha de São Paulo), a atitude de cada país faz parte das "decisões soberanas que as nações têm de tomar".

Kirby disse ainda que o conflito da Ucrânia "teve um efeito ao redor do mundo. Segurança alimentar e segurança energética foram as principais maneiras pelas quais a guerra de Putin afetou nações em todo o mundo. E teve um impacto profundo particularmente na América Latina."

A não interferência brasileira na guerra da Ucrânia passa pelas boas relações que Brasília quer manter com Moscovo e Pequim. À semelhança de Biden, Putin também telefonou a Lula condenando os ataques à democracia em Brasília.

Brasil e Rússia são ‘pais fundadores’ dos BRICS — acrónimo inglês de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Estes cinco paí­ses representam uma fatia substancial da população e do comércio mundiais, e partilham “uma mundivisão sobre a necessidade de reforçar a influência política dos seus Estados”, como explicou ao Expresso Daniel Cardoso, professor de Relações Internacionais.

A política e os interesses estratégicos de cada um dos cinco membros ditam o funcionamento do clube dos BRICS: Une-os “um alinhamento revisionista da ordem internacional saída do pós-II Guerra Mundial”, explica Daniel Cardoso. “Tentaram novo articulado, com a China e a Índia, para reforçar a influência dos respetivos países. É como se os cinco dissessem em uníssono: ‘Não concordamos com a liderança dos Estados Unidos, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial.’ Querem um revisionismo soft, uma ordem onde tenham palavra. O Brasil aspira a ter assento no Conselho de Segurança da ONU.” Em suma, partilham interesses e estratégia política.

O vice-presidente Geraldo Alckmin assume interinamente a chefia do Estado brasileiro (como manda a Constituição) enquanto Lula da Silva estiver nos Estados Unidos.

Para além da mulher do Presidente do Brasil, a socióloga Rosângela Silva, mais conhecida por Janja, integram a comitiva os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda/ Finanças), Marina Silva (Meio Ambiente,) e Anielle Franco (Igualdade Racial).

De acordo com a Folha de São Paulo, o Presidente do Brasil vai ficar hospedado na Blair House, residência do governo americano onde costumam ficar líderes estrangeiros. Lula disse que preferia ficar em um hotel, mas foram levadas em conta questões de segurança, devido à agressividade de alguns apoiadores de Bolsonaro", que ainda está nos Estados Unidos e continua muito ativo nas redes sociais.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mgoucha@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate